Connect with us

Opinião

Fim de ciclo ou modernidade líquida?

Publicado

Foto: Pexels

Com o fluxo de informações proporcionado pelas redes sociais, muitos usuários expõem “fins de ciclo” após o término de um relacionamento, amizades ou atividades profissionais. No entanto, sabe-se que a sociedade, especialmente nos dias hodiernos, é constantemente mutável e se encontra num dinamismo exacerbado, ocasionado pelas ferramentas que surgiram no mundo pós-moderno. Portanto, é válido refletir se tal comportamento é coerente com a espontaneidade dos fatores que levam à finalização dos aspectos que fazem a vida do indivíduo, ou se é apenas uma consequência da fluida “Modernidade Líquida”, como diria o renomado filósofo Zygmunt Bauman.

É perceptível que nossos comportamentos refletem cada vez mais um caráter fleumático, não no sentido de temperamento individual, mas como um padrão coletivo de reação às diversas informações – ampliadas pelos variados meios de comunicação – que chegam até nós. Com isso, torna-se mais fácil não aproveitar e considerar devidamente o estado atual das coisas, mas estar sempre disponível a qualquer opção que vier pela frente e, com isso, estar a mercê de uma volatilidade que distancia o sujeito de suas demandas, realizando uma mudança que exige dele “abrir mão” das mesmas, comprometendo-as.

Ao mesmo tempo, a mudança constante faz com que o estilo de vida seja parâmetro para a definição da identidade do sujeito, facilitando assim a imposição de rótulos. Dessa maneira, o trabalho, outro aspecto que agora se torna volátil, causa um conflito interno no indivíduo: a falta de estabilidade profissional o faz tentar buscar o padrão surgido pela competitividade, decorrente da mobilidade social, e simultaneamente, aceitar qualquer mudança, que agora já faz parte da sua dinâmica de vida.

Acontece que não só no trabalho acontece essa fluidez, mas também nas relações interpessoais. Seria possível, então, que esse dinamismo tenha passado por um processo de romantização, sendo considerado assim, como “ciclo”. Os “fins de clico”, tão mencionados e abordados nos dias atuais, poderiam ser um reflexo de uma sociedade líquida, que torna banal qualquer aspecto da vida e rotula dificuldades rotineiras como motivos para a finalização de um relacionamento, amizade, hábito ou atividade.

Não é negado, no entanto, a existência de uma dinâmica cíclica nas relações sociais, que é visível em situações de término provenientes de uma adversidade insustentável. Há ocasiões em que é até mesmo necessário encerrar uma experiência, às vezes por questões de saúde mental, como em casos de relacionamentos que vão se tornando problemáticos, ou por distâncias impossíveis de serem cruzadas diariamente, o que é bem comum de se tornar motivo para um pedido de demissão. Porém, é necessário refletir se todos os supostos fins de ciclo são realmente decorrentes dessas barreiras, ou se são apenas motivadas por uma mobilidade incessante que banaliza esses contextos, retirando da relação a sua principal essência: valorizar plenamente o outro e o momento vivido.

Continue Reading
Deixe seu comentrio

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

X