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#EspecialPelé: Andrada, o goleiro do milésimo

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Entre sorrisos e comemorações pelo gol 1000 de Pelé, apenas uma reação destoava da atmosfera de alegria que tomou conta do estádio Jornalista Mário Filho. Era a solitária e barulhenta indignação de Andrada, o goleiro, que socava o chão, inconsolável por ter saído como coadjuvante na foto do milésimo gol, justo ele que até àquela noite não havia sofrido gols de Pelé, e entrou para a história como o “arqueiro mil”.

(Foto: Agência O Globo / Arquivo / Reprodução)

A noite de 19 de novembro de 1969 guarda um dos mais emblemáticos capítulos do futebol brasileiro: o milésimo gol de Pelé. Antes mesmo de ser tricampeão mundial no México, o Rei do Futebol alcançou a marca num jogo sem muita emoção contra o Vasco da Gama, no Maracanã, com menos da metade do público normal do estádio na época.

Havia pelo três rodadas daquele Roberto Gomes Pedrosa, que os jogos do Santos se transformaram em uma novela na busca do gol 1000 de Pelé. Eram exatos 65.157 pagantes nas arquibancadas do Mário Filho, quando o árbitro Manoel Amaro de Lima assinalou penalidade máxima de Fernando em Pelé. O cronômetro marcava 32 minutos da etapa final de um jogo morno em que Vasco e Santos empatavam em 1 a 1.

Entre os mais de 65 mil presentes no Maracanã naquela noite, talvez Andrada fosse o único que não quisesse ver aquela bola entrar, justamente por não querer entrar para a história como o goleiro do milésimo gol.

Não adiantou o esforço do ótimo goleiro argentino, que pulou no canto certo e chegou a tocar na bola, mas não evitou que a bola balançasse a rede exatamente às 23h23min para marcar o 2 a 1 santista e o milésimo gol de Pelé.

Enquanto o Rei do Futebol era carregado nos ombros pelos companheiros de time, cumprimentado pelos vascaínos, ovacionado pela torcida presente no Maracanã e cercado pelos repórteres que invadiram o campo, Andrada socava o gramado inconformado, numa gritante solidão.

Contratado pelo Vasco da Gama no início de 1969, Andrada não havia sofrido gol de Pelé até àquela noite. O destino o escolheu para sofrer justamente o gol 1000 do Atleta do Século e, a contragosto, se tornar o “Arqueiro Mil”.

Até à véspera da partida, Andrada era dúvida por sentir dores no tornozelo e era o reserva Valdir o mais cotado para assumir a meta cruz-maltina.

Porém, quis o destino que El Gato se recuperasse e entrasse como titular.

Num tempo de menos blindagem e jogadores com capacidade de falarem sozinhos, via rádio, Pelé e Andrada conversaram sobre o lance após o apito final.

Andrada mostrou sua tristeza, mas sem deixar de reconhecer o feito de Pelé: “Você merece muito mais de mil gols, Pelé. Mas lamento que tenha sido eu o goleiro mil. Confesso que não queria de jeito algum que você fizesse esse gol em mim”.

E Pelé, com a nobreza de um Rei, respondeu como quem se desculpasse: “Uma das coisas que gostei foi que você fez tudo para evitar o milésimo gol, o que o valorizou”.

Andrada não foi apenas o goleiro do milésimo, foi também campeão carioca e brasileiro pelo Vasco, além de se envolver com a ditadura argentina e ser apontado como informante do regime. El Gato morreu aos 80 anos, em 5 de setembro desse ano, e ficou marcado também por sofrer o último gol de Pelé com a camisa da Seleção Brasileira. Dentro de campo, porém, foi um ótimo goleiro, apesar de sua estatura de 1,78 marcou época no Vasco da Gama como um gigante da história cruz-maltina.

(Foto: Agência O Globo / Arquivo / Reprodução)
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