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Saúde

Distanciamento social sim, mas como?

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Fique em casa, mas entenda as dificuldades por trás dessa mensagem

Imagem: Pixabay.com

O número de vítimas da pandemia no Brasil cresce em um ritmo que assusta, no entanto as condições para enfrentá-la continuam sendo desanimadoras. O distanciamento social é a iniciativa mais acessível aos cidadãos para desacelerar os contágios, mas é desafiador por tudo que significa manter-se em casa.

O termo “transmissão comunitária” ou “transmissão sustentada” é utilizado quando o vírus já circula entre a população sem que tenham tido contato com pessoas doentes de COVID-19 vindas de outros países. No Brasil, em 20 de março o Ministério da Saúde declarou estado de transmissão comunitária em seu território. Desde então os temas quarentena, isolamento e distanciamento social viraram assunto entre os brasileiros. No Rio Grande do Norte essa foi a data de publicação do Decreto nº 29.541, que orientava o distanciamento social e trazia restrições de funcionamento ao comércio do estado.

A experiência de outros países e a ciência mostrou que o distanciamento social traz resultados positivos, diminuindo contágios e, consequentemente, mortes. Mas também é verdade que outras medidas combinadas a isso são necessárias para reduzir o impacto dramático da doença. Só que a falta do complemento à estratégia não anula os efeitos benéficos do distanciamento. O esforço, então, é para que todos compreendam a importância de impedir que a doença chegue a quem não pode adoecer, pois tende a desenvolver quadros graves, a precisar de recursos médicos e mesmo assim pode não resistir.

Distanciamento preserva vidas

Imagem: Pixabay.com

Diminuir a circulação das pessoas significa diminuir a interação entre elas, com isso o número de contágios também diminui. Nem todos são propensos a desenvolver formas graves da doença, mas todos são propensos a espalhar a COVID-19. Então, o ponto crucial vai além de apenas adoecer ou não. O que se procura evitar é o aumento do número de vítimas fatais, que decorre do grande número de internações, sobrecarregando as unidades de saúde que desde o início já lidam com insuficiência de profissionais, de equipamentos e até de medicamentos.

O artigo “Por que surtos como o coronavírus se espalham exponencialmente e como achatar a curva”, publicado em 14 de março pelo jornal norte-americano The Washington Post, exemplifica com infográficos interativos a circulação de indivíduos e como se dá a propagação do contágio. A representação gráfica consiste em pontos em movimento, em meio a eles há um de cor diferenciada, que seria o indivíduo infectado. Com a circulação aleatória dele logo outros são contaminados e a curva de contágio cresce rapidamente.

A animação é didática e simples. Consegue deixar evidente que o cálculo da disseminação do vírus não é profecia, mas um raciocínio matemático.

O comportamento de um indivíduo causa efeitos que chegam a outros distantes, por isso as escolhas devem considerar o coletivo, afinal os efeitos são coletivos. Embora grande parte das mensagens que são veiculada na mídia atualmente mencionem a necessidade de proteger a si e à própria família, a ideia é que o distanciamento social possa frear a velocidade dos contágios para reduzir o número de mortes.

Quanto maior a prática do distanciamento, mais pessoas saudáveis são mantidas e menos sobrecarregado fica o sistema de saúde.

Entender o tamanho do desafio

Colocar o distanciamento social em prática não é fácil. Mais de 40% da população brasileira está na economia informal, o que significa que muitos dependem do movimento nas ruas para obter renda. Além disso, em quase todos os estados brasileiros há bairros com infraestrutura precária, muitos sequer contam com coleta e tratamento de esgoto, sem falar da agenda de urgências para a área da saúde antes mesmo da chegada da COVID-19.

As dificuldades vão muito além da falta de renda ou de consciência. Os problemas que o Brasil enfrenta para lidar com o cenário da pandemia já eram problemas antes dela.

Em regiões com alta densidade populacional, com um grande número de pessoas habitando domicílios pequenos, por vezes mal arejados ou mal iluminados, as contaminações na comunidade podem avançar até saírem do totalmente de qualquer controle.

Quando os riscos são ainda maiores

“O vírus da COVID já navegou nos rios da Amazônia, onde essa estrutura hospitalar é muito mais carente”, foi o que disse a médica sanitarista Adele Benzaken, em entrevista para o podcast Café da Manhã, do jornal Folha de São Paulo, reproduzido 4 de maio. Boa parte dos profissionais de saúde estão exaustos e preocupados porque conhecem de perto as deficiências da rede pública de saúde.

Pelo raciocínio da médica sanitarista de Manaus um sistema fragilizado por problemas anteriores pode ser comparado a um corpo humano com problemas de imunidade. Ela também é doutora em saúde pública e alertou que a chegada da COVId-19 se dá nas entranhas de um sistema já desestruturado.

Infraestrutura precária e potencial de contágio
Imagem: Pixabay.com

Embora a Constituição Federal aponte, no artigo 200, a execução de ações de saneamento básico como uma outra atribuição do sistema de saúde, o portal Senado Notícias divulgou, em 25 de setembro de 2019, que apenas  26,87% do esgoto da região nordeste é coletado.

Segundo o Instituto Trata Brasil, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, o saneamento básico é um fator essencial para um país ser chamado de desenvolvido. Para o Brasil, há décadas é um desafio de saúde pública.

Larissa Mies Bombardi e Pablo Luiz Maia Nepomuceno, respectivamente professora e técnico laboratorial do Departamento de Geografia da USP, são os autores do artigo “Covid-19, desigualdade social e tragédia no Brasil”, publicado em 20 de abril na página da Le Monde Diplomatique Brasil, no qual correlacionam a explosão de casos da doença com dados de saneamento básico dos estados.

A situação fica mais dramática porque, segundo afirmam no artigo, as desigualdades regionais ficam mais evidentes. Em Manaus, por exemplo, o município tem densidade demográfica menor que os municípios São Paulo e Rio de Janeiro, mas tem as taxas de contágio similares a desses lugares. Já no Ceará a quantidade de casos corresponde a 70% do total de casos do Rio de Janeiro. No artigo também são apresentados outros dois estudos internacionais, um deles inclusive fala da presença do vírus no esgoto na Austrália.

O perigo está por perto

Cartilha para prevenir o contágio pelo esgoto

Já existe uma Cartilha do Trata Brasil com recomendações para a prevenção do contágio pela COVID-19 pela rede de esgoto. As informações dessa publicação citam uma pesquisa internacional de 2005 que apontou a persistência de um outro tipo de vírus SARS-CoV em amostras de esgoto de dois hospitais da cidade de Pequim que receberam pessoas infectadas.

No documento um alerta é feito para os hospitais provisórios, alternativa adotada por mais de 22 estados brasileiros para lidar com pandemia. Segundo a cartilha, o recomendado é que os excrementos e águas residuais sejam gerenciados em separado. Quanto aos pacientes, a recomendação é pela instalação de banheiros exclusivos mais próximos possível da área de hospitalização.

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