Sociedade
Distanciamento pode possibilitar regressão no tratamento de crianças com autismo
Especialistas comentam efeitos da pandemia no progresso do desenvolvimento de pacientes com TEA e outros transtornos
A pandemia causou uma mudança brusca na rotina de todos, mas principalmente na das crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Impossibilitados de manter suas consultas presenciais com fisioterapeutas, psicólogos e outros profissionais, esses pacientes que precisam ser acompanhados de perto se viram novamente diante de crises que faziam parte do passado, já que não podiam dispor do tratamento multidisciplinar contínuo.
Em estudo publicado em 2020 na revista Brain Sciences, pesquisadores apontaram que autistas experimentaram dificuldades em gerenciar suas atividades diárias e que houve uma intensificação de problemas comportamentais durante este período.
A psicóloga Liziane Araújo conta que, durante a fase de atendimento à distância, ouviu com frequência dos pais de seus pacientes comentários sobre as adversidades que vieram com a quebra da rotina. “No perfil da pessoa com autismo existe uma rigidez comportamental, um apego à rotina, a tudo muito certinho e detalhado e, com a pandemia, isso foi retirado bruscamente, o que gerou uma desorganização na previsibilidade que é tão importante para eles”, detalha.
Segundo a especialista, que é coordenadora da terapia ABA (do inglês Applied Behavior Analysis) na Clínica de Atendimento Personalizado em Terapias Avançadas (CLIAP), alguns pacientes que não conseguem se expressar de forma verbal acabaram adotando comportamentos inadequados para comunicar seu desconforto com a mudança.
“O tratamento das crianças com autismo é contínuo e constante, então a qualquer quebra de rotina, vai ter uma perda”, afirma Jordylene Andrade, psicóloga e coordenadora do corpo clínico infantil da CLIAP. A profissional explica que os avanços com esses pacientes são como “passos de formiguinha”, comemorando pequenas conquistas como quando a criança olha nos olhos dos pais, por exemplo.
Na CLIAP, que é referência no tratamento de pessoas com TEA e outros transtornos de desenvolvimento em Natal, os atendimentos foram adaptados para plataformas online para diminuir as consequências da falta de contato com os pacientes.
A clínica está agora retomando os atendimentos presenciais, mas no período do distanciamento social a equipe precisou buscar alternativas para minimizar os impactos no progresso das crianças.“Nós trabalhamos com gravações personalizadas e o teleatendimento com uma série de atividades adaptadas para que elas pudessem realizar em casa, com os pais como aplicadores das terapias, e tudo feito de forma individualizada, porque cada um dos pacientes têm características muito diferentes”, relata Liziane.
A psicóloga conta que, junto ao material adaptado, foi desenvolvido também um manual para os familiares. Sempre de uma forma muito dinâmica para tornar os processos mais atrativos visualmente porque, em casa, é mais difícil deter a atenção do paciente.
Benefícios do atendimento presencial
Apesar de o atendimento à distância ter cumprido o seu papel emergencialmente, o retorno às consultas presenciais é muito bem vindo para as terapias retornarem à sua forma de excelência.
Para Mauricélia Lopes, fisioterapeuta e proprietária da clínica, um dos maiores diferenciais da CLIAP é proporcionar um atendimento multidisciplinar integrado em um ambiente amplo, acolhedor e lúdico, que permite ao paciente realizar suas atividades em espaços semelhantes a sua casa e escola, ao mesmo tempo que possibilita o convívio social.
“Nós temos todas as terapias englobadas em um só lugar, com nossos especialistas conectados entre si e compartilhando resultados para que o tratamento seja o melhor possível. Além disso, o nosso espaço possibilita diversos locais diferentes para que ela não faça seus tratamentos sempre na mesma sala, caso seja necessária essa mudança de intervenção”, afirma Mauricélia.
Localizada no antigo Casarão do Tirol (na esquina da Avenida Campos Sales com a Rua Maxaranguape), a unidade infantil da CLIAP possui estrutura com ampla área externa e 30 ambientes terapêuticos, além de salas de atendimento, auditório, banheiros adaptados, cozinha funcional e refeitório no térreo. No pavimento superior ficam localizadas as salas de integração sensorial, espaços para terapia Padovan, Pediasuit, cantinho de leitura, sala da robótica, sala do sono e um espaço com estrutura de rapel e tirolesa.
“Essa nossa estrutura é muito importante porque tem crianças que se adaptam melhor em ambientes mais estruturados e tem outras que precisam ir na piscina, no parquinho, na horta, para que apresentem uma melhor reação no tratamento. E, mesmo assim, aqui temos o benefício de ser um ambiente controlado, diferente de dentro da casa que tem distrações como a TV, o celular ou pessoas interferindo”, ressalta Mauricélia.