#DEScancelados
#DEScancelados: Karol Conká – A Vida Depois do Tombo
A Globoplay lançou nesta quinta (29) “A Vida Depois do Tombo”, documentário que acompanha a vida da cantora Karol Conká após sua passagem polêmica pela vigésima primeira edição do reality show Big Brother Brasil. A curitibana foi eliminada do programa com 99,17% dos votos. O índice é o maior número de rejeição alcançado por um participante na história do reality.
Dirigido por Patrícia Carvalho e Patrícia Cupello, o documentário é dividido em quatro episódios: “O Cancelamento”, “Realidade”, “Ruptura” e “O Pai”
Quando soube da existência do documentário, fiquei preocupado em como seria a abordagem e se poderia haver uma “passada de pano”, mas logo nas primeiras cenas de “A Vida Depois do Tombo” fica nítido que as diretoras não estão ali para passar a mão na cabeça de Karol. São exibidos para a própria Karol, em uma sala interativa cheia de telas, os momentos mais polêmicos que causaram revolta no público e com eles vêm algumas perguntas bem incisivas que confrontam Karol e fazem com que ela repense suas atitudes.
Intercalando com esses momentos, há cenas do programa, de shows de Karol Conká, do dia a dia dela pós-BBB e alguns relatos de seus familiares, amigos e equipe de trabalho. Ainda que suas atitudes tenham sido graves, Karol ainda é um ser humano e qualquer pessoa que tenha passado pela internet durante a passagem dela pelo programa viu que o ódio que as pessoas nutriam por ela extrapolava, chegando ao ponto de existir ameaças não só para Karol, mas também para sua família. É nesse aspecto que o documentário brilha. Ele nos faz refletir sobre nós mesmos e nossas atitudes como canceladores, enquanto vemos as consequências do cancelamento. Impossível não se emocionar vendo os relatos da mãe e do filho de Karol, ou no momento em que Lucas Penteado (um dos principais alvos dela dentro do programa) envia um vídeo explicando porque não compareceu ao encontro com ela.
O final trágico da relação entre Karol e seu pai e as dificuldades que ela passou durante sua carreira também são abordadas em “A Vida Depois do Tombo”. O bom é que em nenhum momento esses assuntos são abordados como forma de justificar os erros de Karol, muito pelo contrário, eles estão ali mais para lembrar que ela também é humana e teve contribuições importantes para o cenário musical brasileiro. Karol Conká é preta, mulher, rapper e é difícil ser tudo isso em um país que é machista, racista e vê o rap com olhos tortos. Ela errou feio e nada justifica suas atitudes, mas isso não apaga sua história, luta e conquistas. Estávamos tão preocupados em “fazer justiça”, que esquecemos de todas essas coisas e focamos apenas no ódio. No fim das contas, mesmo que em proporções bem diferentes, também agimos como Karol Conká, que se perdeu no seu ódio e nas suas próprias palavras.
“A Vida Depois do Tombo” é um convite para refletir sobre as consequências do cancelamento e ódio que propagamos na internet e também uma nova forma de olhar para Karol Conká e a nós mesmos.
A série de artigos #DEScancelados promove a visibilidade das boas ações e qualidades de personalidades que – com a nova cultura de cancelamento – estão sofrendo linchamentos virtuais sem propósito de crescimento pessoal, reparação e desconstrução dos seus atos, gestos e falas.
O Elo Jornal não compactua com a propagação de ódio gratuito. Perpetuar a ação odiosa através da cultura do linchamento virtual causa apenas danos, fere o psicológico de qualquer pessoa que possa se sentir ofendida e não tem intuito de criticar de maneira construtiva, o que é ainda mais danoso.