Opinião
Deixa pra depois
Abri os olhos. Cinco da manhã. Pra minha sorte, você tava lá. Dormindo ainda. Tão lindo. Sabia que aquilo não ia durar muito, pois nossos dias iam começar. Tive que ir embora, afinal, o pão não se põe sozinho na mesa.
Essa é a última lembrança que tenho com você. Só que aconteceu toda essa coisa de quarentena. Não nos vimos mais, nem nos falamos. O problema é que com toda essa bagunça, jamais consegui te dizer o que queria. Quem me dera voltar no tempo e poder ter aproveitado tudo isso de uma forma melhor.
Eu gostava de olhar pra você enquanto dormia. Ah, o sorrisinho de canto quando fica nervoso… Gostava de ver como você se empolgava falando das coisas que você gosta e também do quando você se interessava pelas minhas histórias. Os olhos escuros, que poderiam facilmente ser confundidos com o céu estrelado… vasto e misterioso. Você sempre foi um enigma pra mim, né?
Mas eu nunca falei sobre isso. Eu achei que não seria necessário. Sempre achei que existiria um depois. E não tivemos. Talvez a vida seja bastante vasta em relação as probabilidades dela. Mas acho que aqui não cabe um depois.
Nunca fui clara, nem você. O medo sempre foi maior que tudo e era tudo tão bom, que eu tinha medo de estragar as coisas. Não saberia qual seria sua reação com tudo isso. Eu não queria que você ficasse pensando em nada. E se você fosse embora com isso? Deixei o depois pra depois.
Você foi embora mesmo assim, não tivemos escolha. Tudo só aconteceu. Agora me restam mensagens antigas e memórias que, aos poucos, se tornam mais vagas.
Estou presa na dúvida. O que poderia ter acontecido se eu tivesse feito as coisas de forma diferente?
O “e se” fica vagando na minha cabeça.
E talvez, continue… pra sempre. Deixa pra depois, né?
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