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Sociedade

Agosto Lilás: psicóloga e advogada falam sobre como ajudar alguém em situação de violência doméstica

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Mês do aniversário da Lei Maria da Penha incentiva conscientização e combate a violência de gênero e feminicídio

Foto: Alex Green/ Pexels

O mês de agosto carrega a bandeira do enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher. Com a cor lilás, por todo o mês, atividades são desenvolvidas para sensibilizar e conscientizar a sociedade sobre os serviços especializados da rede de atendimento às vítimas e os mecanismos de denúncia existentes. 

A ação surgiu no ano de 2016, no aniversário da Lei Maria da Penha, que neste sábado (7) completa 15 anos desde sua sanção. Entretanto, apesar dos avanços que a legislação trouxe para a proteção do gênero feminino, a data não é de plena comemoração: de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), entre março e abril de 2020 – que estavam entre os meses mais críticos de isolamento social – houve um aumento de 22% nos casos de feminicídio em 12 estados do país. O que pode ter uma explicação de cunho cultural, conforme aponta a professora de Psicologia da Estácio, Greice Carvalho.

“A gente percebe ainda, em muitos Estados, uma comunidade bastante machista, com valores muito arraigados. Então, pode ser que essa mulher confie em uma mãe ou amiga, mas não obtenha o apoio necessário. O que ouço muito de pacientes é ‘falei isso para minha amiga ou minha mãe e elas disseram para aceitar, que isso ia passar, ele é assim mesmo’. Essa cultura corrobora, de alguma forma, para que a gente aceite a situação”, explica.

Com o isolamento social, esse silêncio pode ser ainda mais fatal, conforme indica a professora de Direito da Estácio e pesquisadora sobre o Direito da Mulher, Claudine Rodembusch. “O contato diário e frequente com o agressor e a ausência de relações de apoio, podem ser fatores agravantes para que a vítima não consiga recursos internos para pedir ajuda. Por isso, que é tão necessária a conscientização e políticas de apoio psicológico e material às mulheres, para que se sintam seguras em denunciar.”

De acordo com a advogada, é necessário fomentar o debate e conscientização de toda a sociedade, para que também os familiares e pessoas próximas aprendam a identificar situações de abuso e possam auxiliar essas vítimas que não conseguem quebrar o silêncio sozinhas. “O silêncio mata. E mata todos os dias um pouco. Primeiro nas agressões morais, depois nas torturas psicológicas, nas privações, depois nas agressões físicas. Precisamos quebrar este silêncio e ajudar a salvar vidas”, declara Claudine.

Como ajudar mulheres em situação de abuso e violência?

O acolhimento é fundamental, conforme sugere a psicóloga. “Primeiro é escutando. Se esta mulher está dizendo ‘eu acho que não estou bem’, ela já passou por cima de muita coisa para conseguir dizer isso. Tem muita culpa, muita vergonha. Ninguém casa querendo se separar. A vergonha e culpa ainda estão introjetadas dentro da gente de forma muito forte. A gente precisa ter uma atenção muito grande e não trazer juízo de valor, é poder acolher aquele sentimento”, alerta.

Incentivar a mulher para que busque acompanhamento psicológico também é algo muito importante. “Ela precisa de suporte e incentivo para buscar ajuda e entender que não precisa ter vergonha por isso. Hoje existem diversas instituições que oferecem serviços a baixo custo ou até gratuitos de atendimento psicológico. Apoia-la nessa busca é uma ajuda grande ajuda e gestor de amor”, comenta Greice.

Além do suporte psicológico, é preciso também entender que violência é crime e que o ato de denunciar pode sim salvar vidas. “A proteção do Estado ainda precisa ser ampliada mas já é capaz de evitar que os dados estatísticos apresentassem aumento ainda mais significativo. Infelizmente, durante a pandemia, deslocar-se até as Delegacias Especializadas para realizar a denúncia é muito difícil, o que agrava ainda mais o cenário. Por isso, se disponibilizou o telefone específico e se fez campanha para que os próprios vizinhos viessem a denunciar tais ocorrências”, orienta Claudine.

“Em casos mais graves, que elas não têm essa rede de apoio e financeira, existem locais que elas podem ir com as crianças. Locais, inclusive, protegidos. Então, a gente precisa buscar auxílio e não desistir disso. Mesmo que não encontre um acolhimento esperado, poder ir adiante. Poder falar para o mundo que eu estou em sofrimento e não achar que eu estou errado ou que eu que estou ‘louca’. Não, não foi o armário que bateu, não foi a porta. Isso não é normal”, enfatiza Greice.

Para mudar esse cenário de violência, é necessária uma virada cultural e estrutural, além da dissolução do machismo e das relações tóxicas, da crença de que em briga de marido e mulher não se mete a colher: “Se eu não entendo quando a minha filha me diz que está sofrendo algum tipo de abuso pelo marido, que eu possa buscar entender. Ouvir sem julgamento no primeiro momento. Quanto mais a gente conseguir quebrar esses estigmas, socialmente, a gente vai ganhando força e criando as gerações futuras para que não passem por esses processos”, finaliza a psicóloga.

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