Gastronomia
Você sabe o que é um produto “sabor chocolate”? Nutricionista explica particularidades em relação ao alimento de verdade
Diferenças afetam composição, preço e qualidade nutricional, alerta especialista

Celebrado em 7 de julho, o Dia Mundial do Chocolate é a data perfeita para entender melhor o que, de fato, é chocolate — e por que tantos produtos usam apenas o termo “sabor chocolate” no rótulo. Apesar de mais baratos, eles podem esconder uma composição bem menos nutritiva, conforme explica Anete Mecenas, coordenadora do curso de pós-graduação em Nutrição da Estácio.
De maneira bem simples, alimentos “sabor chocolate” imitam o gosto do ingrediente, mas não o são de fato. Isso porque não seguem os critérios mínimos estabelecidos pela legislação brasileira: de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para um produto ser chamado de chocolate no Brasil, precisa ter pelo menos 25% de sólidos de cacau na composição.
“Isso inclui massa de cacau, cacau em pó e manteiga de cacau. Sem isso, o produto não pode legalmente receber esse nome e, por isso, surge a necessidade de utilizar na embalagem o termo ‘sabor chocolate’, indicando que aquele alimento apenas lembra o sabor, sem atender às exigências da categoria chocolate”, explica a profissional, que também é doutora em Bioquímica com ênfase na química dos alimentos, antioxidantes e biotecnologia.
A regra está amparada na Resolução RDC nº 264/2005 da Anvisa, conforme estabelecido também pela RDC nº 429/2020 e pela Instrução Normativa nº 75/2020, que trata da rotulagem nutricional de alimentos no Brasil. Na prática, a nutricionista explica que a diferença nasce na composição do produto e afeta a sua qualidade.
Composição impacta preço e classificação do produto
No chocolate de verdade, o cacau é o ingrediente principal. Já os produtos “sabor chocolate” usam substitutos mais baratos, como aromatizantes, intensificadores de sabor, gorduras vegetais mais baratas como óleo de palma, soja ou coco no lugar da manteiga de cacau; corantes e pouco ou nenhum cacau.
Para o consumidor, isso significa um produto com gosto que lembra o chocolate, mas com uma composição bastante diferente. “É o que vemos, por exemplo, em coberturas de bolinhos, biscoitos recheados e sorvetes ‘sabor chocolate’. Eles têm muito mais gordura, açúcar e aditivos do que cacau”, alerta Anete.
Outra questão que atrai o consumidor é o preço mais barato, e a resposta está justamente nos ingredientes. “O cacau, especialmente a manteiga de cacau, é um dos componentes mais caros na fabricação de chocolate. Ao substituir essa matéria-prima por gorduras vegetais e aromas artificiais — que custam centavos na indústria —, o custo de produção cai bastante”, explica a coordenadora do curso de pós-graduação em Nutrição da Estácio.
Além disso, continua ela, o processo industrial do chocolate é mais complexo e caro, com etapas como conchagem (processo que melhora textura e sabor) e temperagem (que dá brilho e firmeza). Já os produtos sabor chocolate costumam pular essas etapas, economizando tempo, energia e maquinário.
“Embora sejam mais acessíveis no preço, esses produtos costumam ter alta quantidade de gordura de má qualidade, açúcar e aditivos químicos, com pouco ou nenhum dos benefícios do cacau, que é rico em antioxidantes naturais”, destaca. A nutricionista explica que isso não quer dizer que esses produtos não devem ser consumidos, mas é importante saber o que está levando para casa.
Olhar o rótulo é um ato de autocuidado e segurança alimentar — reforça Anete. “Sempre vale olhar o rótulo e entender a diferença entre um chocolate de verdade e um alimento que só tem ‘sabor chocolate’”, orienta. Outra dica é observar a lista de ingredientes, que deve estar organizada em ordem decrescente.
“O primeiro item da lista é aquele que está presente em maior quantidade no produto. O último é o que está em menor quantidade. Muitas vezes, o primeiro da lista é açúcar, seguido de gordura vegetal, e o cacau aparece só no final, o que significa que tem muito pouco dele na composição”, finaliza.
