Sociedade
#VidasNegrasImportam: Manifestação contra o racismo acontece em Natal
Atos contra o racismo e o genocídio do povo preto aconteceram em todo o país, aqui em Natal, a manifestação ocorreu neste sábado, após a repercussão do caso do João Alberto, homem negro de 40 anos morto na última quinta-feira (19) no estacionamento de uma das filiais do Carrefour, em Porto Alegre.
Mesmo com o presidente Jair Bolsonaro e o seu vice, Mourão, garantindo que não tem racismo no Brasil, a população expõe a violência contra as vidas negras. O preconceito enraizado é negado pelos que se encontram no poder, falam inclusive sobre os brasileiros tentarem “exportar o preconceito”. Mas dados históricos e pesquisas no âmbito nacional provam o contrário.
Segundo dados extraídos do Atlas da Violência 2019, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), mais de 75% das vítimas de homicídio no Brasil foram de pessoas negras, tendo crescimento significativo de mais de 33% de 2007 a 2017, quando a taxa entre pessoas não declaradas negras cresceram por volta de 3%, no mesmo período.
Ainda sobre pesquisas do IPEA de 2013, foi exposto que em Alagoas, por exemplo, os homicídios reduziram em quatro anos a expectativa de vida de homens negros. Entre não negros, a perda foi de apenas três meses e meio. Deixando claro a existência do racismo no Brasil, e que a igualdade racial é apenas um sonho distante. O racismo violenta, oprime e mata todos os dias no Brasil, e as maiores vítimas são pessoas negras e periféricas.
Para a Celina Carvalho, professora de História e jornalista, o racismo é fruto do sistema e mata pessoas pretas diariamente. “Vivemos em um sistema capitalista que escravizou o povo preto” Afirma.
“A colonização estuprou e matou a população negra por séculos, e hoje, na sociedade capitalista, as negras e negros continuam sendo oprimidos, com salários menores, vivendo na pele a opressão, morrendo por ser quem é.” Para Celina, não tem como falar de racismo sem citar o capitalismo enquanto um sistema que mata e oprime a população mais vulnerável.
Em Natal, o ato ocorreu nesta tarde (21), na unidade do Carrefour de Candelária, na Zona Sul de Natal. A segurança do estabelecimento foi altamente reforçada, mas mesmo assim, manifestantes expressaram sua dor, revolta e pedido por basta de violência contra vidas negras. A movimentação iniciou no estacionamento do estabelecimento e se estendeu à BR-101.
Com dizeres de “Marielle perguntou, eu também vou perguntar, quantos de nós tem que morrer para essa guerra acabar?” a memória da vereadora e socióloga Marielle Franco, assassinada em 2018, foi mais uma vez lembrada, como prova da luta negra.
Conversamos com a Lia Araújo, do coletivo de juventude negra chamado Enegrecer, aluna de Ciências Sociais da UFRN e uma das responsáveis pela organização do ato. Ela nos fala da importância da manifestação. “Foi um momento muito importante para a nossa cidade como um todo, percebemos que o movimento antirracista está ativo e com força nas nossas jornadas de rua” E prossegue: “esse ano, em especial, temos um levante internacional contra o racismo estrutural, que os países herdaram do colonialismo e que afeta nossas vidas até hoje”.
Lia fala ainda da vida negra que foi perdida na noite de quinta-feira, o João Alberto. “A morte de João Alberto enfatiza mais ainda nossa luta contra empresas [que não são nacionais, mas que estão instaladas de forma concreta há décadas] e todas as instituições que reprimem o povo negro, nos retirando direitos e nossas vidas”.
Lia expõe ainda o problema que vem se ampliando com a pandemia. “a pandemia têm agravado a condição da população mais vulnerável, e assim como outras doenças pandêmicas que o mundo já viveu, estamos novamente passando por necropolíticas [políticas que deixam pessoas morrerem] e elas nos atingem de forma agressiva” garante.
“Fomos e somos importantes! Não sairemos das ruas, das universidades, dos cargos de poder, pois uma vez ocupando esses espaços, ninguém nos tira!” conclui Lia Araújo.