Coluna de Finanças
Renda extra: uma arma estratégica das classes C e D contra o peso da inflação
Por Rodrigo Azevedo de Carvalho
A alta nos preços dos alimentos, combustíveis e outros bens de primeira necessidade tem pressionado fortemente o orçamento das famílias brasileiras, especialmente das classes C e D. Dados recentes do IBGE mostram que a inflação acumulada nos últimos meses impactou principalmente itens essenciais, como arroz, feijão, leite e carne, tornando ainda mais difícil a tarefa de fechar as contas no fim do mês. Nesse cenário desafiador, a busca por uma renda extra tem se mostrado não apenas uma alternativa viável, mas uma necessidade urgente para milhões de brasileiros.
As famílias das classes C e D representam uma parcela significativa da população, e grande parte delas vive com um orçamento apertado, em que cada real conta. Quando os preços sobem, o impacto é imediato: sobra menos para o lazer, para a educação, para investimentos de longo prazo e, muitas vezes, até para o básico. É nesse contexto que a renda extra surge como um respiro financeiro — uma forma de compensar o aumento do custo de vida sem depender exclusivamente do salário principal.
As possibilidades de obter uma renda adicional são muitas, e nem sempre exigem grandes investimentos iniciais. A informalidade, embora traga seus desafios, oferece caminhos rápidos de entrada para quem precisa começar a ganhar dinheiro imediatamente. Vendas de alimentos caseiros como brigadeiros, picolés, doces, pudins, etc., a revenda de roupas e cosméticos, prestação de pequenos serviços, transporte por aplicativos, e até trabalhos online como produção de conteúdo ou atendimento ao cliente são alternativas cada vez mais comuns. A digitalização da economia, inclusive, tem sido uma grande aliada, permitindo que muitas pessoas empreendam a partir de casa com um simples celular e conexão à internet.
Além do ganho financeiro direto, a renda extra tem outro efeito importante: ela devolve às pessoas um certo grau de controle sobre suas finanças. Em um cenário de incertezas econômicas e ausência de políticas públicas robustas de amparo à população de baixa renda, poder contar com uma fonte de renda complementar reduz a dependência de crédito — que, com os juros elevados, pode virar uma armadilha — e ajuda a manter a dignidade de quem luta diariamente para sustentar sua família.
É importante destacar que o estímulo à renda extra também pode ter efeitos positivos na economia local. Quando mais pessoas passam a oferecer produtos e serviços em suas comunidades, movimentam o comércio de bairro, fortalecem redes de apoio e criam ciclos virtuosos de consumo e geração de trabalho. Trata-se de um fenômeno que, embora nasça da necessidade, pode se transformar em oportunidade e em motor de desenvolvimento social.
Entretanto, é fundamental que essa busca por renda extra seja acompanhada de educação financeira. Muitos brasileiros entram em atividades informais sem planejamento, e isso pode levar à frustração ou até prejuízos. Saber precificar corretamente, separar o dinheiro pessoal do da atividade, guardar parte do lucro para reinvestir e evitar o endividamento são práticas simples que fazem toda a diferença no sucesso a longo prazo.
Diante do cenário econômico atual, marcado por incertezas e alta dos preços, fomentar a renda extra para as classes C e D não é apenas uma solução emergencial, mas uma estratégia inteligente e necessária. Com o apoio adequado, seja de iniciativas públicas, privadas ou do terceiro setor, essa força de trabalho pode não apenas sobreviver à crise — mas reinventar-se e prosperar.
