Coluna de Finanças
Que falta nos faz a educação financeira
Caro(a) leitor(a), já estamos finalizando o segundo mês do ano de 2025 e, se você me permite, eu gostaria de te perguntar: você conseguiu pagar suas contas de início de ano? Se conseguiu, receba os meus parabéns, pois, assim como nos anos anteriores, apenas uma pequena parte da população brasileira conseguiu pagar suas despesas de início de ano com o que recebem. Segundo recente estudo da CNC-SESC-SENAC, 79,5% das famílias com renda de até 03 salários mínimos estão endividadas.
Os aumentos “galopantes” que você e eu testemunhamos nas prateleiras a cada vez que vamos ao supermercado nos fazem perceber que, embora o Governo alegue que “a economia vai bem e a inflação está controlada”, se você, assim como boa parte da população, é assalariado e possui uma renda fixa, deve ter percebido que o seu carrinho de compras está cada vez menos cheio à medida que o tempo passa.
Diante desse cenário desafiador, está se tornando cada vez mais comum o fato de que o brasileiro das classes C, D e E estão deixando de pagar as suas contas para comprar gêneros de primeira necessidade, e essa inadimplência acaba por produzir reflexos claros e perceptíveis no custo do crédito, o que afeta diretamente a esse mesmo público, que acostumou-se a recorrer ao crédito “fácil”, endividando-se para adquirir bens de consumo, eletrodomésticos, automóveis ou até mesmo serviços como educação e lazer.
Esse costume de recorrer ao crédito (que historicamente sempre foi um crédito caro, se comparado aos demais países do mundo) para adquirir esses bens é, em parte, reflexo do baixo poder aquisitivo do brasileiro (o salário mínimo brasileiro é um dos menores da América do Sul, ficando à frente apenas da Venezuela) e, em outra parte, uma clara manifestação de um fator que culmina e piorar toda essa situação relatada até aqui: a falta de educação financeira que acomete boa parte da população brasileira, principalmente a mais pobre.
Recentemente as discussões sobre a adoção da educação financeira nas escolas passou a ocupar uma pequena parte do cenário político, trazendo um pouco de esperança para aqueles que tem clareza sobre os impactos positivos que tal conhecimento traria na vida principalmente da população mais pobre.
Alguém que tenha tido acesso a educação financeira passa a tomar decisões econômicas mais conscientes, a planejar suas finanças (e assim o futuro) e a evitar problemas com endividamento excessivo. Alguém que tenha acesso a educação financeira passa a entender como fazer para aumentar a sua própria renda, a entender quanto dessa renda pode comprometer com suas despesas mensais, para que seja possível investir e passar a construir o seu patrimônio, a constituir reservas para uma possível emergência ou até mesmo a sua aposentadoria.
Considerando que os debates políticos aqui no Brasil costumam ser nada céleres, principalmente quando envolvem temas polêmicos como educação, e ainda mais polêmicos quando se trata da educação financeira, e que dificilmente teremos uma política de implantação da educação financeira na grade curricular nacional no curto prazo, uma alternativa para começar a resolver esse problema é incentivar ações de auto educação financeira, como a adoção de um hábito que, assim como a educação financeira, não é um dos pontos fortes do povo brasileiro: a leitura. Nesse caso, estamos falando de livros específicos, direcionados a esta temática.
Um dos entraves nesse processo de educação financeira através da leitura é que parte dos livros que trata dessa temática é classificada pelo senso comum como “auto ajuda”, fazendo com que essa população menos instruída (justamente a que seria mais beneficiada pelos impactos da educação financeira) tenha certa aversão a eles em função do mais puro preconceito.
Todavia, esse tipo de informação traria certamente tanto impacto positivo na vida da população mais carente, que vale o esforço de cada um de nós em desmistificar esse tema, e incentivar a leitura de livros de educação financeira por aqueles que ainda não a tem.
A falta da educação financeira tem consequências devastadores, por muitas vezes destruindo famílias e, em casos trágicos, levando pessoas a tirarem seu bem mais precioso: sua própria vida. Além disso, contribui com a piora na qualidade de vida da população e no perpetuamento da pobreza. A educação financeira não é um luxo, mas sim um direito essencial para o desenvolvimento pessoal e coletivo de um povo.
*Dicas de leitura
- Salomão, o homem mais rico da Babilônia – George S. Clason
- Os segredos da mente milionária – T. Harv Eker
- Quem pensa enriquece – Napoleon Hill
