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Opinião

Mulher, violência e mídia #1

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No Mulher, violência e mídia #1 será compartilhado os meus primeiros passos na pesquisa, portanto, não irei me aprofundar nos casos expostos. Inicialmente, em uma série de textos, a ideia é dividir um pouco dos estudos sobre a violência de gênero e a mídia, na tentativa de ajudar e contribuir para com outras pessoas. E não só isso: buscar um jornalismo mais humanizado e responsável no seu discurso em relação às questões de gênero.

Mulher, violência e mídia #1

Primeiros passos e caminhos

Em mais uma madrugada qualquer desta quarentena, eu estava assistindo algumas coisas aleatórias no YouTube, como faço quase diariamente. Entre um vídeo e outro, um do Canal Universa foi sugerido. Dessa vez, a sugestão não foi ignorada com sucesso (risos). Esse abordava um assunto que eu já gostava de pautar, pesquisar e dialogar: o feminicídio.

O título e a thumbnail (capa) me deixaram curiosa para saber mais daquela história. Sempre tento conhecer os rostos que foram e são transformados em apenas dados e estatísticas. Sem pensar duas vezes, cliquei para assistir. No decorrer do vídeo, Amanda Carvalho relata como sua mãe foi vítima do feminicídio, o extremo da violência de gênero – a morte de mulheres pela condição de ser mulher.

Aos 17 anos, ela presenciou a mãe ser queimada viva pelo pai e ex-companheiro em sua própria casa. No depoimento, ela conta que já existiam alguns boletins de ocorrência contra ele antes. Aquela foi uma morte anunciada. Amanda também foi queimada, teve 57% do seu corpo atingido. Ela, literalmente, convive com as marcas da violência de gênero todos os dias.

Vídeo “Filhos da violência: Amanda é órfã do feminicídio”, do Canal Universa:

Filhos da violência: Amanda é órfã do feminicídio — Canal Universa

Logo depois, o próximo vídeo sugerido foi sobre o caso Eloá, um dos casos de feminicídio mais conhecidos no país. Ele ganhou uma ampla repercussão por vários motivos. E alguns deles foram: por ser o mais longo sequestro em cárcere privado do estado de São Paulo, pela forma como a polícia agiu, e, principalmente, como a mídia abordou e influenciou no desfecho e morte da jovem Eloá Cristina Pimentel.

Nesse vídeo de pouco mais de 24 minutos, já nos primeiros segundos, surge um áudio da jornalista e apresentadora Sônia Abrão. Durante o sequestro, ela conseguiu conversar com Eloá por telefone. A conversa foi transmitida ao vivo no seu programa “A tarde é sua”. O áudio era esse diálogo. De maneira televisionada, a jornalista incorporou um papel que não era dela, influenciando no destino da adolescente de 15 anos.

A temática do vídeo “Quem matou Eloá?” é uma análise crítica sobre como a mídia retratou o caso e retrata até hoje outros semelhantes. Além da violência física contra a mulher, o discurso e a espetacularização também matam e revitimizam a vítima por diversas vezes. Isso acontece todos os dias. O caso Eloá foi mais uma prova infeliz disso.

Vídeo “Quem matou Eloá?” (Who killed Eloá?), do Canal Doctelacom:

Quem matou Eloá? (Who killed Eloá?) – Canal Doctelamcom

O caso Eloá e todo o sensacionalismo midiático em sua volta são objetos de estudos jornalísticos. Semestre passado, cursei a disciplina Ética Jornalística, na qual uma das avaliações foi analisar situações em que a mídia audiovisual não atuou eticamente. Nessa avaliação, trouxemos, claro, o posicionamento da jornalista Sônia Abrão em torno do acontecimento.

Baseado no Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, da Fenaj, de acordo com o nosso estudo, ela ultrapassou inúmeros limites éticos do jornalismo. Além de todo o discurso e romantização da situação. A mídia transformou um sequestro, seguido de um feminicídio, numa novela. Tentou criar enredos, cenários e personagens para a história até o fim.

Essas formas de abordagens midiáticas, como aconteceu no caso Eloá, estão historicamente presentes no jornalismo – reflexo do machismo, patriarcalismo e misoginia. Esses três males contaminam, adoecem e apodrecem todas as esferas da nossa sociedade. Obviamente, o jornalismo não estaria isento disso.

Aquela madrugada foi mais produtiva do que imaginei. Assisti outros vídeos com a mesma temática, fiz anotações e pesquisei algumas coisas… No outro dia, comecei pesquisando sobre a mídia e os feminicídios, sem um direcionamento específico. Já pesquisava o assunto, mas ainda não tinha feito estudos mais profundos e direcionados. Aqueles foram meus primeiros passos na área da pesquisa.

A primeira leitura foi a da matéria “Cobertura da mídia sobre feminicídio é inapropriada, mostra relatório”, da Agência Brasil. Ela é baseada no relatório “Imprensa e direitos das mulheres: Papel social e desafios da cobertura sobre feminicídio e violência sexual”, o qual traz um monitoramento desse tipo de cobertura jornalística no Brasil, publicado pela Agência Patrícia Galvão. Partindo disso, os caminhos começaram a ter uma direção.

Link da matéria “Cobertura da mídia sobre feminicídio é inapropriada, mostra relatório”, da Agência Brasil:

Cobertura da mídia sobre feminicídio é inapropriada, mostra relatórioNo Brasil, a cobertura midiática de casos de feminicídio e violência sexual carece de aprimoramento. A avaliação é da…agenciabrasil.ebc.com.br

O meu ponto inicial, basicamente, é analisar o discurso da mídia retratando e abordando casos de violência de gênero, com enfoque no feminicídio, como também trazer propostas de um “fazer” jornalismo mais humanizado em sua cobertura. Entretanto, os estudos podem mudar de direção. Ainda estou tentando encaixar as ideias e buscando referências bibliográficas, para ter mais embasamento teórico e argumentos mais sólidos.

Por fim, antes de terminar, queria compartilhar o dossiê “A pauta da violência”, da Agência Patrícia Galvão. Todo jornalista deveria ter esse dossiê no bolso. Ele mostra maneiras dos meios de comunicação conscientizar, ajudar, alertar e contextualizar os casos de violência de gênero, de uma forma mais sensível e aprofundada. Vale a pena conferir e ler!

Link do dossiê “A pauta da violência”, da Agência Patrícia Galvão:

A pauta da violência – Dossiê Violência contra as MulheresO interesse do público conjugado ao interesse público: além de as mulheres serem mais da metade da população, a…dossies.agenciapatriciagalvao.org.br

O feminicídio é uma morte anunciada. Ela pode ser evitada. E o jornalismo pode e deve ajudar nisso. Por um jornalismo mais aprofundado e mais responsável ao falar e abordar questões de gênero. Por um jornalismo que visibiliza, debata e contribua no combate à violência contra a mulher. #invisibilidademata

Reprodução/Pinterest

Obrigada Luciano, Narita e Sabrina pelo apoio e contribuição na correção do texto.

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