Cultura
Da capoeira para o Break: conheça a história de Jean Firmino, B-boy Suave
“O cuscuz é bênção de Deus na vida do nordestino, eu mesmo como cuscuz desde quando era menino, […] Lá em casa tem fartura, falta água, falta luz, mas graças ao pai eterno nunca nos faltou cuscuz. Seja grato meu irmão. Em qualquer situação não importa o que há, creia no Senhor Jesus e vamos comer cuscuz, que no mas Deus proverá”, Souza Filho – Cordel.
É citando os versos deste cordel de Souza Filho que Jean Firmino, 21, dançarino de Break Dance, da cidade de Montanhas-RN se apresenta. Conhecido como B-boy Suave no Break, estilo de dança de rua em que cada dançarino apresenta seu próprio estilo, Jean tem o sonho de chegar na final da maior competição de Breaking do mundo, o Red Bull BC One. Enquanto isso não acontece, Jean vai construindo seu caminho aqui no Rio Grande do Norte e em Montanhas, cidade onde mora, comendo muito cuscuz para ter a energia que precisa nas batalhas das competições que participa.
Filho de pais capoeiristas, desde cedo ele pratica a luta da capoeira, inclusive já participou de algumas competições. Essa é a sua primeira referência na dança. Foi daí também que veio o desejo de estudar a dança e viver dela. Atualmente o b-boy, como são chamados os dançarinos do estilo break, estuda Licenciatura em Dança na Universidade Federal do Rio Grande do Norte e pretende seguir carreira acadêmica.
“Eu quero continuar estudando, terminar minha licenciatura, entrar no mestrado e num doutorado. Dar aulas agora é algo meio que incerto por causa da pandemia, mas quando tudo voltar ao normal quero conseguir novos objetivos com a dança”, diz o B-boy.
O Break surgiu na década de 1970, nos Estados Unidos, e desde então o estilo de dança vem se consolidando, tanto que pode entrar para a lista de esportes disputados nos Jogos Olímpicos de 2024 em Paris. Nas competições, os dançarinos se posicionam frente a frente, se apresentando um por vez e, sem saber o que o DJ irá tocar, eles desenvolvem a coreografia na hora, com o próprio estilo. Cada competidor tem de 50 segundos a um minuto por vez na batalha.
“É uma energia explosiva o tempo todo. O break exige do dançarino essa disponibilidade corporal, uma pegada um pouco maior, então na hora da batalha a gente sente essa energia”, explica Jean.
Com bit da música tocando no ouvido e a energia lá em cima o tempo todo: é assim que os B-boys e B-girls apresentam as suas melhores sessions, seus melhores movimentos. “Eu me sinto muito satisfeito em poder sair para representar Montanhas e acreditar que eu consigo, basta querer. Na hora da batalha, de frente pro oponente, eu lembro o quanto me dediquei, treinei e sonhei”, diz Jean.
Com o troféu de algumas competições regionais que conquistou no Break, como o JAM Session, o B-boy Suave conta que este ano tinha algumas competições marcadas em Salvador e Recife, mas devido a pandemia os eventos foram cancelados. Depois de 10 anos se apresentando para o público em competições, este ano, devido à pandemia do Covid-19, todos os planos foram alterados para o dançarino.
“Todos os objetivos pareciam ter sido em vão. No decorrer da pandemia, alguns trabalhos foram cancelados e aí aquela chama, à vontade pelos objetivos foi enfraquecendo, então percebi que eu precisava estar preparado pra tudo, inclusive quando as coisas derem errado e for necessário ressignificar e mudar nossas atividades”, conta. Sem perder a esperança, Jean acredita que esse momento chegou para provar se o que faz é realmente o que gosta. “É um momento que desafia as pessoas a continuarem, criar novos caminhos, acho que é um momento de muita criatividade”, afirma Jean.
Em meio ao tempo livre em casa, o estudante de Licenciatura em Dança, aproveita para descobrir e aprimorar outras habilidades artísticas. Pelo visto, não é apenas cuscuz que sobra na vida de Jean, também está cheio de criatividade e trabalho nessa pandemia, tanto que descobriu o talento para ser apresentador. Isso mesmo! No dia 20 de julho, aniversário da cidade em que vive, Montanhas RN, O B-boy foi convidado para apresentar a live de aniversário da terra de sete lagoas.
“Foi uma experiência do caramba, uma grande oportunidade, porque além de ter sido pelo aniversário da cidade e eu ter orgulho dela até a tampa (gíria de Montanhas que basicamente quer dizer ao extremo, com muita garra), eu não sabia que eu tinha esse lado de apresentador”, relata o dançarino. Ele diz que não imaginava como conseguiria conduzir, com o próprio jeito de falar, sua arte e apresentar a live. Também explica que antes do dia da live passou cinco dias da semana apresentando um programa por meio do perfil da cidade no Instagram, falando sobre Montanhas RN, sua história etc. “Com isso eu também pude mostrar outras modalidades artísticas que pratico, como cantar e tocar o vilão, declamar alguns cordéis, sendo eu mesmo, de um jeito mais solto, alegre, mas claro seguindo todos os protocolos de saúde ”, relembra o estudante.
Red Bull BC One
Alguns festivais de dança de rua, que iriam acontecer este ano, estão se realizando de forma on-line por envio de vídeos. Cada um de sua casa, em seu local de treino. É o caso da competição da RED BULL , o Red Bull BC One. Este ano tem uma configuração um pouco diferente das competições anteriores devido à pandemia do novo Coronavírus.
Criado em 2004, o evento de breaking é realizado em diversos países, no qual a cada ano milhares de dançarinos competem em batalhas regionais e os vencedores vão para a fase final. Chamado de Red Bull BC One E-Battle, as batalhas deste ano serão on-line e, pela primeira vez na história do evento, os ganhadores da Red Bull BC One E-Battle terão um lugar garantido na final do mundial em 2021.
Na décima sétima edição da competição, os b-boys terão que disputar de frente para câmera e não mais para outro b-boy. Para participar da batalha on-line, o competidor deve enviar um vídeo, com até 60 segundos de duração apresentando a sua coreografia. Mas não é só isso. Dentre as regras desta edição, a gravação do vídeo deve ser parada (sem closes, sem câmera na mão, sem edição, sem câmera lenta), ter sido produzido após janeiro de 2020 e ainda, para cada entrada, os participantes selecionados devem enviar um novo vídeo. A semifinal do mundial será no dia 24 de outubro, ao vivo.
Jean já se inscreveu na competição deste ano, mas não foi selecionado para a próxima fase. Mesmo assim irá continuar treinando e se preparando para o ano que vem, com a possibilidade de competir de forma presencial, o que eleva ainda mais o sentido e o nível da competição.
Quem desejar conhecer melhor o trabalho do dançarino, é só procurar por @bboy_suave no Instagram.