Economia
Como o valor do dólar afeta sua vida?
A alta abrupta do dólar tende a gerar fortes prejuízos
Desde a criação do real em 1994, os brasileiros se acostumaram a ouvir a expressão “alta do dólar” com frequência no noticiário. Em função da pandemia, a submissão do real frente à moeda americana tem refletido um novo normal, superando a marca dos R$ 5 para cada dólar, desde fevereiro.
Mas qual o efeito prático da movimentação do dólar na vida do cidadão comum? E por que é tão comentada nos meios de comunicação?
Antes de chegar à resposta para essas perguntas, é preciso entender o que determina a alta do dólar. Para isso, a explicação é simples: o valor do dólar, assim como qualquer outro, é regido pela lei da oferta e da procura.
Ou seja, quanto mais gente procurando, maior será o preço. E o preço cairá quando houver menos gente demandando.
E justamente nos momentos de crise há maior procura pelo dólar. O mercado de ações é o primeiro a sofrer impacto porque trabalha com especulação. Bastam rumores para acirrar ou acalmar os ânimos dos investidores.
Com uma pandemia em curso, obrigando países a fecharem as portas de estabelecimentos comerciais e restringirem relações internacionais, as Bolsas de Valores reagem imediatamente em todo o mundo.
Nesse cenário, a rota de fuga mais segura é sempre o dólar. Por estar menos sujeita a variações importantes, a moeda americana é considerada um ativo bem mais seguro do que os papeis de qualquer empresa.
Covid-19 e Brasil
A Covid-19 desencadeou uma nova crise política no Brasil com membros do Governo Federal demonstrando publicamente discordâncias na condução do enfrentamento da pandemia.
Esse clima de tensão levou a uma fuga de capitais, ou seja, a retirada de dólares do país, contribuindo ainda mais para a apreciação da moeda em solo tupiniquim.
Além disso, uma instabilidade econômica se arrasta no país desde a crise de 2014. O baixo crescimento do país, que teve PIB (Produto Interno Bruto) de apenas 1,1% em 2019 também contribui para a alta do dólar.
Para piorar, o Brasil também enfrenta uma mínima histórica de juros e constantes mudanças no cenário político que puxam a alta do dólar.
Externamente, são muitos os fatores que determinam a valorização da moeda como:
A guerra comercial entre EUA e China na disputa por hegemonia econômica;
- Os impactos da pandemia nas economias mundiais;
- O fortalecimento da economia norte-americana;
- A instabilidade política na América Latina;
- A queda do preço das commodities (matérias-primas).
Impacto na vida dos brasileiros
A valorização do dólar impacta diretamente na vida do brasileiro por diversos motivos.
Para começar, deve-se lembrar que boa parte de tudo o que é consumido no Brasil, do pão ao celular, vem de fora por completo ou em partes – por meio de insumos demandados para produção.
Assim, com o dólar em alta, o custo extra é repassado ao consumidor. Caso contrário, as empresas que trabalham com itens importados iriam a falência.
Serviços (como a conta de luz), eletrônicos e até vestuário também podem ter seus preços influenciados por essa movimentação que mantém a cotação do dólar em mais de R$ 5.
O setor de turismo, um dos mais importantes da economia nacional, foi o primeiro a ser impactado negativamente desde que a pandemia fez o dólar disparar e enfrenta uma crise sem precedentes.
Em outros tempos, a notícia da alta no preço do dólar poderia ser boa para o segmento, pois o real em queda torna os destinos nacionais atrativos para o turista estrangeiro.
Mas com as medidas restritivas impostas em todos os países, conhecer as praias do nordeste ou o Pão- de-Açúcar deixou de ser opção para os gringos.
Até mesmo as passagens aéreas são fixadas de acordo com o desempenho da moeda americana. E o consumo de todo tipo no exterior fica mais caro, afugentando os viajantes brasileiros.
Tributos
A apuração de alguns impostos obrigatórios para as empresas considera a variação cambial. A alta abrupta do dólar tende a gerar fortes prejuízos para os empresários brasileiros, cujos negócios estão sujeitos ao câmbio.
O IRPJ (Imposto de Renda da Pessoa Jurídica) e a CSLL (Contribuição Social sobre Lucro Líquido) são exemplos disso, pois podem levar a um esvaziamento de caixa para pagamentos desnecessários, a depender do regime de tributação escolhido.