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Moda & Estilo

Brechó e o upcycling: a economia circulativa natalense

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Brechó, um ciclo de rotatividade que vai além do consumo exacerbado e pode até contar histórias

Ficar numa caixa de um sistema que te faz perecer, que controla a sua vida e, possivelmente, priva a sua liberdade de aceitação social, é consequência de um consumo promovido por compras desnecessárias, despojo instantâneo e desigualdade social. 2022 é o ano de um século que já passa por vários percalços, e falar de sustentabilidade ainda é necessário. No entanto, ser sustentável acarreta ter um consumo consciente e isso já é um grande conceito presente em diversas áreas que fazem a economia do globo girar, e uma delas é a moda. Dessa forma, serviços criativos atualmente estão indo no caminho do reaproveitamento, ao passo que essa tendência já é uma realidade até para pequenos empreendedores.

Apesar de todo e qualquer tipo de conscientização, a sociedade é preenchida por produtos que são “obsoletos” e que, por conseguinte, causam descartes exagerados. Esse tipo de circulação não é orgânica, mas um ciclo vicioso promovedor de uma cadeia de degradação ambiental dos recursos do planeta Terra. Dessa maneira, é perceptível a urgência da criação de novos hábitos sociais, podendo-se iniciar em uma análise de como pequenas empresas do ramo de moda sustentável podem praticar uma rede circular de consumo que funciona como agregadora ao meio ambiente.

De acordo com a Pesquisa Akatu 2018, somente 4% dos brasileiros podem ser classificados como consumidores conscientes, aqueles que, de fato, tomam suas decisões de consumo baseados no que é melhor para o coletivo e para o meio ambiente. No entanto, é necessário salientar que cerca de 86% dos brasileiros querem reduzir o seu impacto individual sobre o meio ambiente e a natureza, segundo a pesquisa Vida Saudável e Sustentável 2021, desenvolvida por Akatu e GlobeScan.

Tauani Lima é analista de comunicação no Instituto Akatu – Foto: Cedida

Tauani Lima, analista de comunicação do Instituto Akatu, afirma que o consumo com melhor impacto é buscar alternativas que gerem menos impactos negativos e atribuem impactos positivos para si próprio, para a sociedade e para o meio ambiente.

“É focar no que é necessário para o bem-estar, minimizando a compra por impulsos e o supérfluo, além de estender a vida útil dos produtos e fazer a destinação adequada de resíduos. É entender que, enquanto consumidores, temos o poder de escolher o que é melhor para todos nós, no sentido de evitar desperdícios e agir ativamente pela preservação dos ecossistemas”, pontuou Tauani Lima.

Nesse contexto de sustentabilidade, o ramo da moda mostra como os brechós são economicamente acessíveis em volta dos altos preços de peças de roupas novas. Esse nicho de mercado é uma oportunidade para um consumidor que quer ser consciente. Por isso, o Brechó e o upcycling, mantenedores de uma economia circulativa, são o fenômeno para o futuro que já está começando.

A moda no século XXI é apreciada pela sua democracia e gera novos costumes que são interpretados e recebidos pelo público de diversas formas, na intenção de se adequar à nova era da informação. O ato de se vestir é uma representação de quem nós somos e faz parte da nossa personalidade. Dessa forma, os brechós já são uma realidade cotidiana e estão crescendo todos os dias numa luta em prol do alcance dos clientes. A partir disso, a economia circular chega para assolar um desperdício corrente, desde a criação de materiais até a nova utilização e o reaproveitamento.

Esse tipo de desenvolvimento sustentável leva empresas a promoverem novas possibilidades para esquematizar como funciona a carência dos clientes nesse segmento. Incluir a sustentabilidade na moda é algo que deve ser encarado como pertinente e indispensável, pois viabiliza soluções conscientes e de proteção ambiental, além de atingir os âmbitos sociais, culturais e econômicos.

Indústria têxtil e sua degradação ambiental: como os brechós têm um consumo de impacto positivo?

Os brechós rompem uma cadeia de degradação da indústria têxtil, pois a reutilização diminui um ciclo extremamente “robótico” de novos produtos de forma frenética e reduz a produção de lixo. Além disso, o fator econômico também está presente, já que boa parte dos brechós possuem preços baixos e coerentes, garantindo uma acessibilidade e alcance maior para o público.

Moda circular beneficia uma economia circular. O principal benefício disso é a diminuição de lixo, pois por um lado temos uma indústria super consumista e do outro temos a degradação ambiental. Por isso, a partir do momento que itens começam a circular, grandes impactos são evitados.

No entanto, os brechós ainda são designados por diversos estereótipos que prejudicam a sua propagação e aceitação. Termos como “velho”, “usados”, “sujos” são frequentemente associados a esse nicho de mercado. Segundo uma pesquisa do Instituto Akatu, que é referência no país em consumo consciente, grande parte dos millennials não compram em bazares.

Essa pesquisa acaba sendo reflexo desse costume que ainda é difundido socialmente, apesar dos brechós serem acessíveis e mantenedores de uma economia circular e sustentável. Uma explicação para isso é a indução de massa ao consumo exacerbado que faz o indivíduo ver a compra de um item reutilizável como algo negativo.

Segundo Tauani Lima, analista de comunicação do Instituto Akatu, os brechós possuem vantagem econômica, visto que, a maioria dos itens usados são vendidos num valor mais acessível que faz o consumidor optar pelo produto de segunda mão, contribuindo para a sustentabilidade da vida no planeta.

“A compra de um item usado estende a sua vida útil, ou seja, faz com que continue tendo utilidade para uma pessoa mesmo quando o seu primeiro dono não precisa mais dele, e ainda, contribui para a diminuição dos impactos negativos associados à produção de novos produtos” reiterou Tauani Lima.

Para um melhor entendimento do pensamento, podemos formular que para fabricar uma camiseta de algodão exige 2,7 mil litros de água, o suficiente para uma pessoa lavar roupa por 4 meses. Já para a produção de uma única calça jeans pode demandar até 11 mil litros de água. Desse modo, comprar uma peça usada é, portanto, poupar esses recursos naturais gastos na produção de novos itens.

Upcycling: um modo de prática sustentável
Umas das técnicas mais revolucionárias na área têxtil

Numa economia de um país que está fragilizado, práticas sustentáveis ganham um espaço e a conscientização estabelece uma força. Nesta linhagem, o upcycling obtém notoriedade nesse lugar de sustentabilidade, dando um novo significado a peças que seriam descartadas, com originalidade, engenhosidade e, possivelmente, deixando-as melhores que as originais.

No cenário da sustentabilidade, a autora do livro Moda e Sustentabilidade, uma Reflexão Necessária, e doutora em Ciências Sociais pela UFRRJ, Lilyan Berlim, traz questões a respeito da moda sustentável.

“O Upcycling é uma das técnicas mais interessantes dentro da indústria têxtil, pois as roupas usadas podem ser re-avaliadas, revistas e reentrar num novo ciclo. Essa técnica oferece uma possibilidade de criação em algo que já está circulando” disse Lilyan Berlim.

Lilyan Guimarães Berlim é membro do Comitê Científico do Global Fashion Conference. Docente convidada da Business School da Nottingham Trent University (UK), onde ministra temas sobre Responsabilidade Socioambiental e Indústria Têxtil – Foto: Cedida

No âmbito da moda, a prática é exercida por pequenos negócios e eles estimulam seu público a um consumo saudável e o uso de uma mesma variedade de roupas usadas. O upcycling é um viés do sustentável nessa indústria têxtil degradadora.

A Brechonista Store é um empreendimento da cidade de Natal, que desde 2019 vem fazendo moda circular ou upcycling. A pequena empresa é especializada em moda feminina, oferecendo qualidade e moda sustentável para as clientes.

Fachada A Brechonista – Foto: Reprodução

O brechó tem um processo de curadoria, que envolve a escolha das peças que estarão à venda, bem como a higienização e o cuidado com o armazenamento.

Além disso, marcas conceituadas fazem parte das peças da loja. Na Brechonista, grandes marcas são vendidas por um preço justo e que vai além da compra. As peças se tornam únicas e podem contar histórias.

O brechó de upcycling agrega um impacto positivo para a região. Por ser acessível, contribui para um consumo mais adequado e de menos descartes. Ademais, o empreendimento move mais mulheres de diferentes poderes aquisitivos, criando um hábito local relacionado a moda circular sobre essas clientes.

Segundo Elizabete Nandes, proprietária do brechó, as clientes percebem que a moda sustentável, hoje, é de qualidade e de forma ecologicamente responsável, e tudo isso com preços justos.

Voltando um pouco ao começo de tudo, a Brechonista surgiu no final de 2019. No entanto, poucos meses depois da abertura, a pandemia do coronavírus no Brasil afetou o negócio.

“Achei que o Brechó não iria resistir ao vírus, pois a loja física estava fechada por tempo indeterminado, por conta do isolamento social. As despesas continuaram vindo, mas as receitas não” disse Elizabete Nandes.

O fator determinante para manter o sonho, crescer e levar o negócio para o próximo nível foi a internet. A loja passou a utilizar as redes sociais para divulgar o garimpo de roupas, por meio de vídeos, fotos e outras ferramentas da plataforma. Dessa maneira, foi assim que a receita começou a crescer, as clientes viam as peças através das redes sociais e assim faziam a compra.

“Até hoje isso é a nossa maior ferramenta de vendas e vem se tornando uma corrente fortificada, onde mais e mais seguidoras acompanham nossas redes sociais, e como consequência, um número maior de clientes” disse a proprietária.

Atualmente, o brechó é uma boa fonte de renda, mantendo-se estável e com visão de maior crescimento para o futuro. O empreendimento beneficia a família da proprietária e mantém uma colaboradora. O objetivo é continuar nesse ritmo para crescer a equipe e poder empregar mais mulheres no ramo.

Em suma, reutilizar e reciclar matérias são hábitos de consumo consciente que viabilizam uma economia mais circular e um desenvolvimento mais sustentável, em ligação com a preservação de ecossistemas e da nossa própria sobrevivência no planeta.

A economia criativa na resolução dos brechós em Natal

Fluxo de mercado no nicho sustentável

Os brechós além de atuarem para um mundo sustentável, promovem a economia criativa aqui no Rio Grande do Norte. O empreendimento de vender roupas usadas por um valor menor tem o poder de movimentar o comércio em pequena escala de uma região, e isso muitas vezes é feito na própria casa das pessoas, na qual elas “criam” um espaço para vender suas peças e começam a gerar o seu próprio lucro, além de usar um método em que a compra é justa e não motiva um mercado de descartes e degradamento ambiental.

Não existe moda sustentável se a peça feita continua consumindo muitos recursos, mesmo que sejam orgânicos, naturais e se essa roupa não tem um processo de logística reversa, ou seja, se ela volta pra quem fabricou e/ou vai para o lixo. A noção de moda sustentável é mais profunda do que o mercado utiliza.

Brechós localizados na Zona Sul e Norte do Natal. Obs.: Os brechós marcados foram selecionados por meio da
relevância obtida no Google.

“O mercado utiliza desse termo para vender mais produtos, para gerar mais vendas. O objetivo é ter empresas sustentáveis que façam produtos responsáveis, não propaguem um consumismo desenfreado e que tenham um sistema de logística reversa, ou seja, recolher a roupa quando ela não for mais usada e empregar uma economia circular” pontuou Lilyan.

Segundo um estudo apresentado pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, na sigla em inglês), a indústria da moda é a segunda mais poluente do mundo. Mais de 8% do total das emissões globais de gases de efeito estufa são produzidos pela indústria de vestuários e calçados, impulsionando a crise climática. Outros impactos negativos vão do uso excessivo de recursos hídricos à geração excessiva de resíduos, por exemplo.

Brechós e o futuro: estão na esfera dos negócios circulares e são uma alternativa viável nos próximos anos. Segundo Lilyan Berlim, pesquisas americanas apontam que nos Estados Unidos, os negócios de cunho circular crescem de forma assustadora e que até 2030 teremos mais a venda de itens usados do que novos.

Dessa maneira, é importante que a indústria da moda junto a sociedade se mobilizem em optar meios de produção e consumo mais sustentáveis com melhor impacto. Nessa linha de raciocínio, os consumidores podem dar preferência a marcas responsáveis na sustentabilidade enquanto empresas precisam comunicar seus atributos de cunho sustentável e suas ações socioambientais com maior clareza.

O brechó no ciclo sustentável e o viés do mercado escravista

A precarização ou o trabalho análago a escravidão é algo pontual na indústria textil

A produção têxtil global, hoje, é um lugar de exploração que fomenta a escravidão. As razões para isso é o grande ciclo consumista para alimentar o atual mercado e garantir a assertividade de lucro, e para isso, utilizam de alternativas desumanas.

Tráfico humano, espaços de trabalho em condições precárias, trabalho infantil e carga horárias de trabalho de até 12 horas são algumas das práticas oferecidas por empresas do meio téxtil.

De acordo com Lilyan Berlim, os brechós trabalham com a ideia de circularidade, ou seja, o reuso de roupas, e isso diminui consideravelmente a produção de itens novos que influenciam indiretamente a quantidade de trabalho precarizado na indústria têxtil. Além disso, Berlim pontua que “Na medida que se consome mais roupas de negócios considerados circulares, como os brechós, a gente pode diminuir essa fabricação de itens, ajudando o meio ambiente evitando a desgastes naturais”.

Em relação ao país, o mercado escravista é submetido aos trabalhadores emigrantes que vêm para o Brasil com promessas de vida melhor, mas na maioria das vezes tornam-se instrumentos da indústria degradadora. Outro fator que contribui para essa submissão é a quitação de dívidas de locomoção para chegada no país.

Um Futuro Sustentável
A economia circulativa como proposta de futuro

Diante das reflexões levantadas, é importante ter em mente como esse processo de cadeia da indústria têxtil é exploratório e desencadeia turbilhões de desastres ambientais do campo até a finalização da produção. Apesar disso, os brechós fazem parte do nicho de mercado e não industrial, mas são expoentes da economia circular que é sustentável e econômica.

Entender esse sistema de produção têxtil é perceber como os brechós são importantes tanto porque movimentam a economia no seu setor como priorizam técnicas de sustentabilidade estilo o upcycling. Além disso, é fundamental destacar como esses hábitos fomentam que marcas se tornem mais responsáveis no processo logístico de seus itens, pois, quando bem acatada, torna-se uma demanda de mercado.

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