Opinião
Relatos de uma jornalista na pós-pandemia: o privilégio dos rostos
Se você é um indivíduo imaginativo e observador, provavelmente já lhe ocorreu de se pegar pensando sobre como se tornou um privilégio ver o rosto das pessoas em lugares públicos – para aqueles que usam a máscara corretamente, claro.
Bom, não sei você, caro leitor, mas isso já me ocorreu várias vezes. Penso em como as expressões faciais nunca foram tão desejadas como o são agora, depois de tanto tempo apenas tendo os olhos como referência. Quantas falhas de comunicação não devem ter ocorrido por causa das máscaras.
Sem falar nos momentos em que a voz saía completamente abafada e causava uma série de “o que?” e repetições da mesma frase.
Ah, mas uma vantagem foi poder cantar ou falar sozinha na rua sem que ninguém percebesse, isso sim. Ainda não nos despedimos das máscaras e continuamos não nos reconhecendo por completo em lugares públicos, quando imaginamos rostos mais afilados que na verdade são mais quadrados e assim seguimos sem saber ao certo como é o rosto completo da pessoa que estava ao nosso lado no ônibus, por exemplo.
É um pouco maluco pensar que viveríamos uma situação dessas, não acha?
Principalmente quando os brasileiros não costumam usar máscaras em momento algum. Não vemos a hora de sairmos livres na rua, com o rosto todo à mostra, mas receio que vá demorar um pouco mais depois do surgimento da nova variante Ômicron.
E mesmo com o funcionamento normal das atividades, aquelas que exigem sorrisos e expressões mais explícitas são as que mais sofrem com essa cobertura parcial dos rostos. Que triste ver uma apresentação de dança sem os sorrisos encantadores dos bailarinos!
Pessoalmente, como boa observadora, sinto extrema falta de ver sorrisos ladinos, lábios se mexendo em conversas sussurradas ou pequenas expressões como o mexer de um nariz nervoso e mordidas de lábios inferiores por concentração. Observar o comportamento humano mais
natural é um ótimo passatempo, caro leitor, mas que tem se tornado angustiante desde o início da pandemia. Se você também tem o costume de prestar atenção nas expressões alheias, entende do que estou falando.
Agora, noto como era um privilégio poder olhar para as pessoas, mas não só olhar, e sim percebê-las. Devemos perceber mais uns aos outros, principalmente depois de tempos tão apáticos.