Cultura
Natal e Nossa Senhora da Apresentação: uma relação de fé e história
“Ainda era madrugada do dia 21 de novembro de 1753, quando pescadores encontraram uma imagem da Virgem Maria encalhada entre as pedras à margem do rio Potengi, na ainda pacata cidade do Natal. Uma mensagem grafada no caixote que transportava a imagem afirmava: ‘Onde está imagem aportar, nenhuma desgraça acontecerá’. Levada ao padre local, a imagem foi entronizada na igreja matriz e venerada pelos fiéis.” Certamente, esta parte da história você já deve estar careca de saber, contudo, a relação entre Nossa Senhora da Apresentação e a cidade do Natal guarda curiosidades que talvez você desconheça.
A primeira delas é que a imagem encontrada no rio Potengi não se trata de Nossa Senhora da Apresentação, mas sim de Nossa Senhora do Rosário. A imagem original da “Virgem da Apresentação” retrata a mãe de Jesus ainda criança. Contudo, como a imagem natalense foi encontrada no dia 21 de novembro – data em que os católicos celebram a festa da Apresentação de Maria no templo – a estátua acabou recebendo um “novo” título por aqui. Um fator que facilitou essa adaptação da imagem ao “novo” nome é exatamente o motivo da nossa segunda curiosidade.
Diferente do que muitos pensam, Nossa Senhora da apresentação já era considerada padroeira da cidade do Natal antes mesmo do encontro da imagem no rio Potengi. Em um de seus documentos, o historiador Luís da Câmara Cascudo resgata um trecho do livro escrito pelo Frei Agostinho de Santa Maria, em 1722, – 31 anos antes do encontro da imagem – em que o frei português relata sobre um grande quadro presente na igreja matriz de Natal.
“Na capela-mor daquela matriz se colocou pouco depois um grande e famoso quadro de pintura, em que se vê o mesmo mistério da Senhora historiado… A sua festividade se lhe celebra em 21 de novembro, que é o dia em que a Senhora foi oferecida ao Senhor da Glória”. (1980:122).
Segundo o seminarista da Arquidiocese de Natal, Yago Carvalho, acredita-se que o quadro descrito pelo Frei Agostinho tenha se perdido durante um incêndio na antiga igreja matriz. No entanto, nenhuma prova documental confirma o ocorrido.
Se não se sabe ao certo o destino da pintura, não se pode falar o mesmo sobre a localização exata do encontro da imagem. A pedra onde o caixote com a santa encalhou há quase três séculos, é visitada por milhares de fiéis a cada 21 de novembro. Localizada entre os bairros da Cidade Alta e do Passo da Pátria, o marco de encontro da imagem conta com uma réplica da estátua de Nossa Senhora do Rosário no topo de uma imensa coluna, no local atualmente batizado de Pedra do Rosário.
Já a primeira igreja dedicada a padroeira, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, localizada na praça André de Albuquerque Maranhão, no centro histórico da cidade, foi o marco de fundação da cidade. Além disso, durante anos a igreja foi o local de celebração da vida, mas também de sepultamento dos mortos. Era uma tradição antiga que em pequenas cidades os falecidos católicos fossem enterrados dentro das igrejas, na ausência de cemitérios. Por aqui, a igreja dedicada a padroeira guarda até hoje os restos mortais de dezenas de potiguares, entre eles, o do revolucionário André de Albuquerque Maranhão, encontrado ainda acorrentado durante escavações no ano de 1994.
De casa nova desde 1988, a imagem da padroeira fica em um local de destaque na Catedral Metropolitana. Visitada em 1991 pelo então papa João Paulo II – hoje considerado santo pelos católicos – a catedral, construída com traços modernos e detentora do recorde de maior vão livre em concreto protendido do Brasil, é parte da paisagem da Cidade Alta.