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Trabalho

Profissões: Você conhece a Geologia?

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Iniciaremos hoje uma série que mostra profissões diferentes das tradicionais

O sonho da maioria das pessoas ao concluir o ensino médio, e por muitos que não tiveram e não tem a oportunidade de ter uma vida escolar, é sem dúvidas escolher uma profissão que se orgulhe e lhe dê satisfação em atuar. 

Quando jovens, é muito comum ficar em dúvidas sobre que carreira seguir, o que fazer, onde atuar. Por isso, o Elo Jornal traz uma série de entrevistas com profissionais que atuam em carreiras, digamos… pouco comuns. 

Vamos conhecer hoje a carreira na Geologia:

Imagem: Facebook | Estudando Geologia

Para nos apresentar a profissão de Geólogo, nossa entrevistada é Tarsila Barbosa que nos contou como a geologia entrou em sua vida, confira:

Tarsila Barbosa | Foto: Arcevo Pessoal

“A geologia está na minha vida desde muito cedo e, por inspiração do meu pai, fiz o curso técnico em Geologia e Mineração no IFRN (2008-2011). Lá me envolvi com bolsas de pesquisa e pude participar de estágios na área ambiental (Petrobras e Aprove) aqui mesmo em Natal. Confirmei minha paixão em geologia e entrei na graduação da UFRN (2012-2016).

Lá participei de pesquisas também na área ambiental, mais focada em hidrogeologia, o que me leva ao meu Trabalho de Conclusão de Curso sobre os impactos ambientais sofridos na região das Zonas de Proteção Ambiental ZPA 01 (rio Pitimbu) e ZPA 03 (Parque da Cidade). No mestrado, meus estudos me levaram a pesquisas em campos de dunas em Rio do Fogo e São Bento do Norte/RN, utilizando geofísica para descrever as feições internas e correlacioná-las com a geomorfologia observada na superfície.

Desde 2015, sou servidora no Departamento de Geologia da UFRN, onde atuo como Técnica em Geologia no Laboratório de Sedimentologia. Lá realizamos ensaios físicos e preparamos amostras de sedimentos e solos para ensaios químicos, mas também participo de diversas ações de extensão visando a divulgação da geologia para a sociedade (Trilhas Potiguares, Escola na Geologia, Geoparque Seridó). Esse ano ingressei no Programa de Doutorado, e iniciei os estudos sobre feições cársticas da Caverna Furna Feia, em Baraúna/RN”, detalha Tarsila Barbosa, como puderam perceber, apaixonada pela sua profissão.

Mariana, Tarsila e Luana em campo pelo projeto da UFRN – Trilhas Potiguares, na cidade de Luís Gomes/RN | Foto: Acervo Pessoal

Mas, saber sobre ela foi apenas uma introdução, de como a Geologia pode ser algo extremamente interessante, em entrevista para o Elo, Tarsila nos contou em detalhes tudo o que você precisa saber sobre o ensino da Geologia e o que ela tem para oferecer.

Elo Jornal: O que se estuda na geologia?

Tarsila Barbosa: “A geologia é uma ciência que estuda o planeta Terra, sua estrutura, composição e processos físicos que modificam sua superfície. Nosso principal material de estudo são as rochas, os minerais, sedimentos e os fósseis, e partir deles conseguimos identificar seu ambiente formador, idade (geralmente na escala de milhares, milhões e até bilhões de anos), etc. De uma maneira mais lúdica, posso dizer nós investigamos a Terra para contar sua história.”

Elo Jornal: Onde o geólogo atua? E quais as suas funções?

Tarsila Barbosa: “Geólogas e geólogos atuam nos mais diversos ramos do mercado de trabalho, envolvendo trabalhos de campo ou de escritório, mas geralmente mesclando ambos. Conheço geólogas e geólogos que trabalham em minas de exploração de riquezas minerais, outros atuam em escritórios de consultoria ambiental, tem também os que embarcam em plataformas de petróleo ou em companhias de distribuição de água, e ainda os que não saem do laboratório analisando as diversas propriedades dos minerais e rochas. Mas antes de disso tudo, há ainda duas linhas básicas de carreira, como em outras áreas: uma mais acadêmica e uma mais industrial/comercial. Na geologia há uma grande interação entre pesquisa e indústria, por exemplo, com diversos projetos de pesquisas fomentados pela indústria.”

Mapeamento em Cafarnaum/BA | Foto: Acervo Pessoal

Elo Jornal: Há especializações no estudo da Geologia?

Tarsila Barbosa: “Sim, e muitas.

Existem alguns cursos de especialização atualmente no Brasil, mas não há obrigatoriedade de cursar um para se tornar um especialista de determinada área. De maneira geral, um geólogo define na faculdade sua maior afinidade, geralmente com um tipo de rocha (magmática, metamórfica ou sedimentar). Dentro de cada grande área, existem diversas outras mais específicas. Por exemplo, dentro da geologia sedimentar, pode-se trabalhar na exploração de campos petrolíferos, na exploração de água subterrânea para abastecer as cidades, etc. Mas vai além disso, pode-se também estudar processos de erosão, deslizamento de encostas, inundações, movimentação de dunas, etapas fundamentais no ordenamento urbano e gerenciamento da expansão das cidades. Há também outras áreas menos comuns, digamos assim, conheço geólogas que trabalharam na alocação de fibra ótica no Oceano Atlântico, indicando os locais mais seguros, utilizando geofísica. Ou geólogos especializados em paleontologia dos pólens de plantas antigas. Ou, as mais famosas, que são geólogos e geólogas que se aventuram em vulcões ou buscam por riquezas minerais como o ouro.”

Mapeamento em Martins/RN | Foto: Acervo Pessoal

Elo Jornal: Qual a importância da Geologia?

Tarsila Barbosa: “A geologia tem uma grande importância na ciência que é a de contar a história do nosso planeta Terra, há ainda várias lacunas em sua longa história de bilhões de anos, e precisamos também difundir o conhecimento geológico para a sociedade (a Terra não é plana!). No nosso dia-a-dia, a geologia está presente em quase tudo, desde os metais explorados para produzir nossos celulares, até a água que a gente consome, a gasolina que abastecemos os automóveis, na prevenção de desastres ambientais, etc.”

Mapeamento em Martins/RN | Foto: Acervo Pessoal

Elo Jornal: Qual o seu conselho para quem se interessar em ingressar na área?

Tarsila Barbosa: “A maioria dos geólogos trabalha em campo, mesmo que seja possível trabalhar apenas no laboratório/escritório. Mas sempre é preciso coletar uma amostra na natureza, então é preciso o mínimo preparo físico e afinidade com um ambiente, muitas vezes inóspito, longínquo, etc.

Por este motivo, a maioria dos trabalhos demandam viagens, das mais variadas durações, ou mesmo trabalhos 100% fora da sua cidade, então a viagem é um fator bem recorrente na vida das geólogas e geólogos e é preciso estar ciente disso. Por causa da geologia já conheci muitas cidades do Brasil, principalmente no interior no Nordeste.

No Brasil, temos faculdades de excelência, mas cada uma tem um destaque para uma área de estudo, então é preciso pesquisar os currículos (principalmente do quadro de professores), os laboratórios, as disciplinas oferecidas, a carga horária de campo, etc.

Dentro da faculdade, recomendo explorar as mais diversas áreas, e se dedicar-se muito às disciplinas básicas. Elas podem ser chatas em alguns momentos, mas um bom geólogo não passa vergonha no conhecimento básico. Além disso, não se assuste se os colegas parecem mais apaixonados pela geologia no começo do curso, conheço casos de geólogos exemplares que não encontraram sua área muito rápido e hoje em dia estão muito felizes na geologia explorando novos horizontes.

É importante também sempre buscar envolvimento com estágios, grupos de pesquisa, empresas juniores, etc., possibilitando a formação de uma rede de contatos que pode (vai) ser útil no momento de ingressar no mercado de trabalho (o famoso networking). Ligado a isso, sempre ajude seus colegas e tenha um comportamento profissional, mesmo na faculdade. No Brasil, não é tão grande a quantidade de profissionais e acaba que todo mundo se conhece um pouco, e a gente sempre se esbarra num evento, num projeto, etc. Além disso, o conhecimento prático é o mais valioso em geologia, e hoje em dia a experiência conta muito assim que saímos da faculdade.”

Mapeamento em Martins/RN | Foto: Acervo Pessoal
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