Cultura
“Eu sou Malala”, a liberdade da menina pássaro
Malala Yousafzai ficou mundialmente conhecida após seu discurso na ONU onde defendia o direito à educação para todas as meninas e meninos, suas palavras sobre as canetas serem as nossas armas por um mundo melhor ressoam até hoje. Muitos sabem do atentado que sofreu em seu país, o Paquistão, quando membros do Talibã tentaram tirar a sua vida enquanto ela estava no ônibus, ao lado de suas amigas, voltando da escola. Foi também a pessoa mais jovem a ganhar um prêmio Nobel. Sendo tão conhecida, é possível pensar: o que mais há para descobrirmos? A resposta vem em seguida: há uma infinidade de vida e sentidos e todas nos são apresentadas através de seu livro “Eu sou Malala: A história da garota que defendeu o direito à educação e foi baleada pelo Talibã”, escrito em conjunto com Chistina Lamb.
Sua história é inspiradora por inúmeros motivos, a começar pelo seu desejo ardente de entender o mundo e alcançar a compreensão de que isso só seria possível através dos livros. Habitante do Vale do Swat cresceu cercada pelo afeto de seus pais, pessoas de corações diferenciados, digo isto porque mesmo em meio a uma cultura onde a opressão às mulheres é muito forte, seu pai a criou como um pássaro livre, em oposição a tantos homens de sua comunidade. Malala conta que diferente de muitos casamentos, o de seus pais foi por amor, seu pai nunca levantou a mão para bater em sua mãe, agressões que são comuns em sua região. Para grande parte dos pachtuns, grupo ao qual Malala pertence, quando um menino nasce a celebração é gigante, já quando nasce uma menina, as lamentações são igualmente proporcionais. Seu nascimento foi motivo de grande alegria, reflexo das virtudes de seus pais.
Criada como igual ao lado de seus irmãos, cresceu ouvindo o desejo de seu pai de construir uma escola, mais do que isso, o viu realizá-lo. Seu livro é dividido em cinco partes. Na primeira lemos sobre a sua família e portanto a história de seu povo, costumes e tradições entrelaçados com o próprio cotidiano da menina. Na segunda parte, somos apresentados à difícil realidade de conviver com o terrorismo, pessoas sendo mortas pelo radicalismo, ou como chamamos no ocidente: fundamentalismo. A terceira parte é o relato do ataque e dos dias que o antecederam. Na quarta e quinta parte somos introduzidos ao início de sua nova vida, a recuperação no seu novo lar, a Inglaterra, e as adaptações a uma nova nação.
Muito além de conhecer mais sobre Malala, seu livro nos ambienta sobre a situação de violência presente no Paquistão e também Afeganistão. Sobre como muitos utilizam a religião para justificar o que para ela é injustificável, pois compreende que sua fé não é o que estão fazendo dela. Ela e seus pais acreditam em um Deus amoroso que se alegra com seus filhos e filhas, não em em homens que diminuem as mulheres, matam a seus irmãos e sujam de sangue suas praças e bairros. Vemos a vida através de seu olhar, doce e corajoso.
A verdade é que medo e coragem andam juntos em suas palavras, somos ensinados de que se quisermos fazer a diferença no mundo para que a vida não seja apenas medo, é preciso que os temores sejam menores do que a bravura. E isto tem muito mais força vindo dela.
Honra e vingança são conceitos que acabam por se misturar na tradição do seu povo. Malala os separa novamente para nos dar um novo fôlego de esperança e nos lembrar sobre a dignidade que desfaz barreiras e é capaz de transformar o mundo.
Viu escolas serem derrubadas, foi proibida de estudar, juntamente com todas as meninas de seu Vale, a ocupação Talibã se ergueu fortemente ao seu redor. Não abriu mão do seu direito, falou publicamente sobre os problemas que enfrentava, recebeu ameaças de morte, estudou escondida ao lado de suas amigas. Pensou por um instante que tudo estava resolvido, que o Exército havia acalmado a situação, seu mundo virou de cabeça para baixo.
Malala escreve de maneira tão pessoal que é impossível não sentir o impacto de sua obra. Em uma sociedade onde a vida foi dividida por gêneros, traz o resgate do humano. Conta sobre as crueldades as quais muitas meninas são submetidas, sendo forçadas a casar ainda crianças para resolver desavenças entre povos separados. Proibidas de realizar tarefas simples, como ir ao mercado, se não estiverem na companhia de um homem membro de suas famílias. Dificilmente poderão exercer alguma profissão, se muito, podem ser professoras ou médicas, mas não pense que é tão comum assim.
No Paquistão, quando as mulheres dizem que querem independência, as pessoas acham que isso significa que não desejam obedecer a seus pais, irmãos ou maridos. Mas não é isso. Significa que queremos tomar decisões por conta própria. Queremos ser livres para ir à escola ou para ir trabalhar. [Trecho do livro].
A sensação mais profunda de indignação causada em nós vem acompanhada da lição mais nobre explícita em sua obra: jamais nos tornamos maus e nunca devolvermos com ódio o que nos fizerem. Sua honra não consiste em alimentar vinganças, mas sim em promover mudanças. Malala foi criada para ser um pássaro livre e convida a todos para o voo.
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Esse texto é uma parceria com a Quando Nuvem
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