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Saúde

Covid-19 pode contaminar sistema de saneamento

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No Rio Grande do Norte são 15 mil domicílios à margem do sistema de esgoto e abastecimento regular. Foto: Cícero Oliveira

Um estudo publicado recentemente indica que o novo coronavírus foi encontrado nas fezes de pacientes internados na China, mesmo quando as amostras do trato respiratório já estavam negativadas. O artigo Prolonged presence of SARS-CoV-2 viral RNA in faecal samples (Yongjian Wu e outros), publicado na revista científica The Lancet Gastroenterology e Hepatology no último dia 19 de março, mostrou que as amostras permanecem positivas por até 47 dias após os primeiros sintomas.

A constatação acende um alerta para a possibilidade de contaminação em banheiros e posteriormente na rede de saneamento básico das cidades. A contaminação fecal-oral, que é quando o vírus está presente nas fezes e pode entrar na boca de uma outra pessoa, pode acontecer pela água, por alimentos ou por causa da falta de lavagem adequada das mãos após contato com itens contaminados, como assentos sanitários, torneiras e maçanetas.

O professor da Escola Multicampi de Ciências Médicas do Rio Grande do Norte (EMCM), infectologista Igor Queiroz, ressalta que para acontecer a contaminação por meio de água não tratada é preciso que o RNA do vírus esteja viável para a transmissão. “Os  profissionais que trabalham no setor de saneamento já possuem vestimentas específicas para lidar com potenciais riscos e é importante que eles usem não apenas contra a Covid-19, mas contra outros tipos de agentes que podem oferecer riscos à saúde”, alerta.

Considerando o potencial de contaminação pela Covid-19 mediante o esgoto não tratado, é importante considerar as condições de vulnerabilidade de grande parcela da população que utiliza formas de esgotamento sanitário precárias, lançando dejetos em fontes naturais de água. Na região Nordeste, de acordo com análise divulgada pelo Observatório do Nordeste para Análise Sócio-Demográfica do Covid-19 (ONAS-Covid19), ligado ao Programa de Pós-graduação em Demografia da UFRN, são mais de 880 mil domicílios na região Nordeste que se se valem dessas formas de esgotamento, sendo que 20% dos domicílios também não possuem acesso à rede geral de abastecimento de água. No Rio Grande do Norte, são 15 mil domicílios à margem do sistema de esgoto e abastecimento regular.

A análise do ONAS-Covid19, realizada pelos professores Ricardo Ojima e Jordana de Jesus, do Departamento de Demografia e Ciências Atuariais da UFRN, conclui que o momento torna ainda mais importante buscar soluções imediatas e permanentes para o tratamento do esgoto.

Contaminação fecal-oral

O artigo Prolonged presence of SARS-CoV-2 viral RNA in faecal samples foi realizado entre os dias 16 de janeiro e 15 de março com 98 pacientes. Em mais da metade dos pacientes as amostras fecais permaneceram positivas para o RNA da SARS-CoV-2 por uma média de 11,2 dias após as amostras do trato respiratório se tornarem negativas para o RNA da SARS-CoV-2, o que significa que a transmissão fecal-oral pode ocorrer mesmo após a liberação viral no trato respiratório.

Ainda não foram relatados casos de transmissão por via fecal-oral para SARS-CoV-2, mas o estudo sugere que apesar da infecção por essa via ser improvável em situação de quarentena, no hospital ou sob tratamento auto-isolamento, a transmissão fecal-oral pode representar um risco em residências e outros locais com uso de banheiro compartilhado. O estudo foi aprovado pelo Medical Ethical Committee of The Fifth Affiliated Hospital of Sun Yat-sen University.

*Texto de Vilma Torres para a Agência de Comunicação da UFRN

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