Opinião
Amor (ao Jornalismo) em tempos de guerra
Perdoem-me se eu não comemoro o Dia do Jornalista. Se respondi com amargura às congratulações que recebi nesse 7 de abril de 2020. É que não estou conseguindo dissociar o hoje do ontem e do amanhã, em meio à rotina de usurpação e agressões à minha profissão.
Nós jornalistas escolhemos estudar e praticar o jornalismo, mas hoje nos vemos vilipendiados todos os dias no exercício do nosso ofício de informar. Acusados de asseclas de uma ótica ideológica de direita ou de esquerda, ao cumpri até mesmo a missão mais básica de relatar um fato. Fulminados, se ousarmos comentar e opinar.
Muitos são realmente direita ou esquerda por convicção ou ocasião. Mas, grande parte de nós trabalha por salários e se compara ao médico que deixa de pedir um exame complementar para o diagnóstico, porque recebeu do hospital a ordem de economizar; ou ao bancário que vende título de capitalização, porque recebeu do banco uma meta de faturamento com o produto para bater no fim do mês.
Sem meias palavras. O presidente cortou verbas publicitárias, ameaçou cassar concessões, incitou os apoiadores dele contra a imprensa e, sim, um exército de jornalistas ofendidos e ameaçados partiu para a guerra, sob o comando de generais detentores dos meios de comunicação de massa. Só não vê quem não quer. E coitados daqueles que só enxergam mocinhos de um lado e bandidos de outro, quando, claramente, cada um defende interesses próprios com as armas e aliados que possuem. Niguém, nesta gerra (sim! guerra! declarada!) está completamente certo ou inteiramente errado.
Mas, mesmo no meio de tudo isso, ainda há bravos soldados rasos do Jornalismo, tentando sobreviver dignamente dessa profissão e cumprir a convocação vocacional de informar a um povo que não os merece. Precisa deles, mas não os reconhece.
Povo esse que cobra uma imprensa isenta, mas não está disposto a contribuir com isso, nem financeira e nem intelectualmente. Quem paga assinatura? Quem ler os textos até o fim do terceiro parágrafo?
Não. Niguém quer financiar um veículo com uma assinatura, por mais mísera que essa seja. E, como se fosse serviço voluntário obrigatório, cobram isenção. Mas afinal, quem deve pagar por isso? Jornalista não come e não paga contas?
Não. Niguém quer ler a reportagem. Basta ler o título e ver a foto, para formar uma opinião. Se esse leitor fica com a informação parcial ou equivocada, culpa do jornalista que não disse tudo numa manchete de 30 linhas? “Sensacionalistas”! “Sórdidos”!
Tempos difíceis. Tempo de guerra entre Governo Federal e grande imprensa. Mas os reais alvejados são, além do cidadão desavisado que não ler (muito menos as entrelinhas) e se informa por ouvir dizer, os profissionais do chão da fábrica da notícia, insultados nas ruas, nas manifestações e em qualquer lugar e a qualquer hora. E eles ainda têm sorte, por assim dizer. Milhares de outros estão desempregados, com o fechamento de vagas e redações inteiras de jornais, revistas e portais. Será desses que surgirá o jornalismo ressurreto e reinventado? Tento, angustiada, manter minhas esperanças num futuro melhor.
Ilana Albuquerque
jornalista em Natal/RN