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Séries e Filmes

Vivemos num mundo invertido?

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Foto: Reprodução | Netflix

A quarta temporada de Stranger Things trouxe consigo um ambiente ainda mais pesado, complexo e assustador que as temporadas anteriores. Parte disso vem dos elementos já característicos da série, como os monstros e o suspense envolto no enredo. No entanto, outro aspecto foi determinante para transparecer ainda mais esse caráter: a forma como o Vecna, principal vilão da temporada, explora os tormentos psicológicos de suas vítimas. Para essa análise, temos a personagem Max (Sadie Sink) como exemplo central.

Conhecemos a Max ainda na 2ª temporada, como uma menina que, apesar dos problemas pessoais, consegue superá-los para viver momentos de alegria com seus novos amigos de Hawkins. Na 3ª, já familiarizada com seu novo círculo de convivência, é mostrada a personagem ainda mais feliz, vivendo a vida normal de uma adolescente (apesar dos conflitos com o devorador de mentes). É aí que Maxine vivencia um trauma: a morte de seu irmão.

A nova Max agora se esconde em seu próprio mundo, como reflexo dos sentimentos despertados pelo trauma. A personagem perde o interesse nas demais pessoas, em suas amizades e nos outros aspectos da sua vida – incluindo o amoroso e acadêmico. Sobrevivendo de maneira depressiva, o Vecna agora a torna uma vítima, explorando ainda mais suas dores como forma de acabar aos poucos com a ruiva, assim como fez com suas vítimas anteriores.

A personagem se perdeu em seu mundo, e consequentemente, se desvencilhou de si mesma. A verdadeira Max, como mostrado nas temporadas anteriores, é alegre, colorida e forte. Agora que assumiu uma personalidade oposta da que de fato é, mostra-se fria, apática e com uma vida ‘sem cor’ – como se reflete em seu próprio figurino. 

Mas será que essa realidade é restrita a Hawkins dos anos 80? Quantas pessoas se perdem de si mesmas todos os dias devido aos traumas? Quantas vezes o sofrimento faz alguém se esquecer de quem realmente é? De acordo com a Pesquisa Vigitel 2021, 11,3% dos brasileiros relataram ter recebido um diagnóstico médico de depressão, número que equivale a cerca de 11,5 milhões. Já no mundo, esse número é de mais de 300 milhões de pessoas, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS. 

O episódio 4 conta com uma cena que muitos espectadores fizeram alusão à depressão: quando o Vecna tenta matá-la no mundo invertido. Neste momento, é mostrado cenas de felicidade vivenciadas pela Max, pouco antes de ela se livrar do vilão com a música Running Up That Hill, de Kate Bush. Os momentos apresentados se contrapõem à situação sofrida pela personagem, decorrente da morte do irmão, e também mostram uma Max feliz, diferente da atual.

Existem vários parâmetros que nos fazem querer se encaixar em algo por intermédio de meios que não fazem parte de nossa essência, e isso nos vai moldando ao padrão, de forma que o indivíduo se perde dele mesmo. E com o costume, ele pode se esquecer de quem de fato é, do que gosta e do que pensa. Esse fenômeno pode ocorrer por traumas ou cobranças excessivas.

A verdade é que existem várias Max andando por aí, que se perderam de si mesmas. Elas confundem força com apatia, compromisso com automobilidade, e se tornam o inverso do que realmente são – vivendo num verdadeiro mundo invertido. 

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