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Economia

Máscaras de proteção: fonte de renda e acessório de moda em meio a pandemia

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Publicado:  1 de setembro de 2020 – Atualizado em 30 de agosto de 2021

De item de proteção a um acessório do vestuário, as máscaras de tecido devem permanecer e dar lucro a pequenos negócios mesmo depois da pandemia

máscaras do Ateliê Araka, com referências africanas 
Fotos: Reprodução | Instagram @ateliearaka

Há mais de um ano, desde o início da pandemia, o Brasil e o mundo passaram a respirar por debaixo das telas, das máscaras que cobrem o rosto e evitam uma maior exposição ao novo Coronavírus.  Muitos brasileiros encontraram neste item de proteção uma fonte de renda e ainda de estilo para o uso diário. 

O fato é que elas já eram utilizadas antes mesmo da pandemia e não apenas em ambientes hospitalares. Acredita-se que inicialmente o uso de máscaras era para fins religiosos ou teatrais. A partir do séc. XVII, elas foram inseridas no campo da saúde, em combate à peste negra. No Japão, por exemplo, o hábito de usar máscaras vem desde o início do século XX, como uma forma das pessoas se protegerem quando estão doentes e até mesmo servindo de barreira contra a poluição.

De acordo com a designer de moda e figurinista, Jéssica Cerejeira, 25, @jessica_cerejeira, existem registros históricos, que datam de 1603 a 1868, comprovando o uso das primeiras máscaras de proteção. Elas eram feitas de uma planta ou de papel e utilizadas para impedir que o mau hálito das pessoas fosse sentido por outras ao seu redor. “Assim como as luvas, gorros e óculos de sol, que protegem contra o frio e o sol, as máscaras também têm uma função semelhante quanto a  proteção e vestuário das pessoas. Recomendadas pela OMS como uma barreira de proteção contra a Covid-19, as máscaras são a nova onda do momento”, contextualizou.

A popularização e introdução de conteúdo de moda neste item veio antes da pandemia do novo Coronavírus nos países orientais. A ideia, segundo a designer, era tornar a máscara um produto mais atraente, com estampas, novas modelagens e cores da estação. No Brasil, depois que a máscara passou a ser obrigatória, com objetivo de prevenção ao vírus, não demorou muito para ver o acessório com estampas de bolinhas ou até mesmo com o quadriculado referente ao São João. “Não poderia ser diferente, pois o brasileiro tem um potencial criativo fora do comum e isso é ótimo, pois vários tipos de máscaras foram surgindo, adaptadas ergonomicamente para atender os usuários e para todos os tipos de gostos”, explicou a designer.

Gildete chegou a produzir mais de 2.800 máscaras para um único cliente – Foto: Naryelle Keyse

Costureira há 30 anos, dona Gildete Azevedo (@arks_coreselinhas), 45, atualmente confecciona e vende máscaras de tecido para seu próprio sustento em Natal, RN. Ela conta que a produção de máscaras começou em janeiro de 2020, pouco antes do início da pandemia. Em seguida, dona Gildete passou a produzir em maior quantidade para as pessoas de outras cidades do Rio Grande do Norte e, até mesmo, para fora do Estado. “No início da pandemia eu cheguei a fabricar 2800 máscaras para uma empresa de jalecos no Rio de Janeiro, que as distribuiu nas periferias de lá”, relatou.

Gildete confecciona os modelos de máscaras de proteção em casa – Foto: Naryelle Keyse

Em apenas quatro meses de pandemia, a costureira confeccionou um alto volume de máscaras, com vendas presenciais e pela internet. Pelos cálculos de Gildete, com a venda de máscaras e outras confecções que realizou durante a pandemia, em quatro meses ela conseguiu faturar entre R$ 2.000 e R$ 2.500 por mês, no período de março a junho de 2020, totalizando aproximadamente 10 mil reais. 

As estampas mais procuradas são as de desenho animado, escudo de time de futebol ou temáticas para o dia das mães e dia dos pais. Além dessas, as brancas tradicionais são as mais pedidas por quem trabalha na área da saúde.

 “O pessoal tem procurado muito as peças com estampas para combinar com a roupa. A máscara se tornou um acessório que não pode faltar no dia a dia e, por isso, eu acredito que ainda irei continuar confeccionando elas por mais um ano”,  contou.

E por falar em estampas, quem decidiu apostar e empreender nas máscaras com um estilo mais africano e mais colorido, foi o costureiro e estudante de Teatro na UFRN, Judson Andrade, 30, dono do ateliê Araka, localizado no bairro Ponta Negra, em Natal (@ateliearaka).

As referências usadas para confecção destas máscaras foram as cores do arco-íris, que faz alusão ao nome do ateliê. “Araka tem relação com o candomblé, o nome é em homenagem a um orixá chamado Oxumaré, ele é o arco íris que aparece no céu”, conta Judson. Segundo o costureiro, que realiza seu trabalho com outras peças há mais de três anos, como bolsas e saias de terreiro, a produção e venda das máscaras aumentou o interesse do público por outros produtos que ele costura. Ele afirma também que chegou a produzir mensalmente 250 peças do produto e mais 100 para doações.

Entre os tipos de máscaras confeccionadas pelo ateliê estão a cirúrgica e a bico de pato, também podem ser fabricados modelos exclusivos, conforme o cliente desejar. Quem tiver interesse em conferir o material feito por Judson, é só ir no perfil do Instagram @ateliêaraka.

Trabalhos como os de dona Gildete e o de Judson se multiplicaram em todo o mundo. Eles e tantos outros artesãos precisaram se reinventar naquilo que já exerciam. “É bacana também ver pequenos artesãos e costureiras trabalharem em suas casas, produzindo máscaras lindas para vender e algumas até produziram grandes quantidades para doação”, diz Cerejeira. 

Atualmente, o Rio Grande do Norte é o sétimo estado do país com maior número de artesãos registrados no Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro (Sicab), com um total de 9 mil 433 trabalhadores desse ramo, segundo a Secretaria de Estado do Trabalho, da Habitação e da Assistência Social do RN (Sethas).

As possibilidades de se trabalhar com este item são tantas que, pensando em promover acessibilidade às pessoas surdas, algumas empresas até conseguiram confeccionar máscaras com transparência na região da boca.

As máscaras inclusivas produzidas na diocese de Santo André / Foto: Divulgação – Diocese de Santo André

A especialista acredita que esta também foi uma boa alternativa para incentivar o aproveitamento de insumos têxteis das fábricas de pequeno e médio porte, que encontraram, nos retalhos, uma nova fonte de renda neste período. “Algumas marcas perderam totalmente a noção da realidade, colocando preços abusivos nestes produtos. Marcas com este tipo de posicionamento têm passado vergonha, pois os consumidores estão atentos e têm usado as redes sociais para denunciar atitudes como essa” analisou. 

Embora o uso das máscaras tenha como utilidade a prevenção ao novo coronavírus, no mundo da moda a máscara ganha um novo significado e estilo como acessório no look das pessoas. Dependendo da estampa ou imagem que foi projetada no tecido, também existe ali uma mensagem, que possui algum significado ou que representa certa identificação para o usuário. 

A estilista reforça que a moda é reflexo do nosso tempo, uma ferramenta importante que promove debates políticos e sociais.  “Por isso, ela é levada a sério, principalmente pelos profissionais que atuam nesse segmento”, concluiu .

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