Cultura
Filme Potiguar Rosa de Aroeira Participará de Festival em Los Angeles
O curta-metragem registra a vida e o cotidiano de mulheres da Comunidade do Reduto em São Miguel do Gostoso
O curta-metragem potiguar Rosa de Aroeira participará da Mostra Competitiva BWIE no Los Angeles Brazilian Film Festival (LABRFF), considerado hoje o maior festival de cinema Brasileiro nos Estados Unidos. O Festival chega à sua 13ª edição nos dias 21 e 25 de outubro e será realizado por meio da plataforma Filmocracy, que permite uma interação entre os participantes por meio de vídeo e áudio.
Rosa de Aroeira é um documentário com vinte minutos de duração, roteirizado e dirigido por Mônica Mac Dowell. O filme é o primeiro trabalho audiovisual da realizadora, que de posse de uma câmera de celular registrou a vida e o cotidiano de um grupo de quatro mulheres residentes na comunidade do Reduto, localizada no município de São Miguel do Gostoso, no Rio Grande do Norte.
O filme conta com montagem de Larinha Dantas e trilha sonora original de Valéria Oliveira, em um registro poético e antropológico do lugar e do cotidiano das personagens Dona Neuza, Dona Deuzuite, Dona Gracinha e Robéria, que com suas experiências de vida contribuíram para que o curta-metragem fosse incluído no universo audiovisual do Rio Grande do Norte, do Brasil e do exterior. Com a estreia realizada no Festival Macambira em Natal, em março de 2020, o curta também teve seleções para outros festivais como: I Mostra Latino-americana de Filmes Etnográficos da Semana de Antropologia da UFRN em outubro de 2020; Mostra SESC Ceará de Cultura; e o Festival Internacional de Curtas no Rio de Janeiro (1º FIC RIO) – concorrendo na categoria de Melhor Documentário – com datas de exibição a serem definidas.
FICHA TÉCNICA
Roteiro, Direção, Produção e Fotografia: Mônica MacDowell
Montagem e Finalização: Larinha R. Dantas
Trilha Sonora Original: Valéria Oliveira
Mixagem e Edição de Som: Gabriel Souto e Eduardo Pinheiro
Colorgrading: Gabriel Souto
Design de Logotipo e Cartaz: Atena Marketing
MULHERES ENTREVISTADAS NO REDUTO
Dona Neuza: Neuza Felício Marques
Dona Deuzuite: Francisca Soares da Silva
Dona Gracinha: Maria das Graças Miranda Martins
Robéria: Robéria Menezes de Lima
SERVIÇO
13º LABRFF – Los Angeles Brazilian Film Festival
21 e 25 de outubro
Transmissão – Plataforma Filmocracy: https://labrff.com/?v=19d3326f3137
Ensaio Rosa De Aroeira
O curta-metragem Rosa de Aroeira é um filme documentário que registra com muita delicadeza visual a paisagem agreste da pequena comunidade litorânea do Estado do Rio Grande do Norte e a relação interativa e germinal de quatro campesinas com a natureza bucólica do lugar.
O documentário é um texto visual composto de metáforas, em que, os enquadramentos e as angulações das personagens e do ambiente retratado, elaboram e produzem imagens vastamente impregnadas de poesia e sensorialidade.
A partir do recorte da câmera o filme revela-se como uma manifestação estética, aonde os objetos de cena, o cenário e as personagens, compõem uma tela viva e em movimento, com texturas e cores que revelam a sensibilidade estilística da diretora e o cuidado que ela teve com a concepção das imagens captadas e reveladas.
Por meio da sua lente a roteirista e diretora aponta para a relação estreita e íntima que tem com a comunidade e com as pessoas que habitam o Reduto, criando dessa forma, uma poética da imagem com inúmeras translações visuais e sutilezas imagéticas.
A narrativa fílmica é pontuada pelo andamento das falas e pela biografia de Gracinha, Deuzuite, Neuza e Robéria, personagens da história, que, por meio de suas vozes, tecem e costuram os fios das rendas dos seus respectivos tempos e habitat. Os relatos das personagens são pautados pelas histórias de vida e narrados no mesmo ritmo circular da câmera da realizadora e do movimento temporal empregado pela roda da máquina de moagem da mandioca.
A afabilidade com que a diretora Mônica Mac Dowell captou e bordeou as imagens revela uma escrita iminentemente feminina. Escritura estética que dialoga didaticamente com a paisagem feminal do lugar, com as personagens retratadas, e com a força de trabalho presente no dia a dia árduo dessas mulheres potiguares.
A trilha sonora, composta e interpretada pela cantora Valéria Oliveira, é uma elegia aos quatro elementos da natureza e ao feminino seminal que compõem as imagens da diretora e que aconchegam as histórias de vida relatadas por essas personagens brasileiras.
Além da primorosa estética empregada nas imagens o filme também concede visibilidade social a essas mulheres imêmores por meio do ato de suas falas e suas memórias, criando no plano da expressão e no plano do conteúdo, imagens impregnadas de poesia e de transladação de vozes que habitualmente parecem invisíveis aos olhos do Brasil.
Em Rosa de Aroeira a plástica e a textura das imagens são produtoras de múltiplos sentidos imagéticos e de várias sintaxes na diegese fílmica e, por meio dessas vozes peregrinas, acontece a ruptura do invisível social, provocando nessas mulheres a saída de um tempo mítico e do lugar comum.
O documentário Rosa de Aroeira, dirigido e roteirizado por Mônica Mac Dowell, “prepara o dia e decifra a noite dessas fecundas mulheres” residentes do litoral do Rio Grande do Norte.
Andréa Mousinho
Professora Universitária, Jornalista e Mestre em Comunicação, Semiótica e Artes. PUC/SP. Em Doutoramento na Universidade de Coimbra – Portugal