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Crítica| A Festa de Formatura
A história de uma garota lésbica e cisgênero que não tem permissão da sua cidade e colegas de escola para levar sua namorada para o baile parece uma escolha narrativa fraca e utópica. No entanto, The Prom remonta a história de Constance McMillen que há exatos dez anos foi proibida de levar sua namorada ao baile de formatura.
O caso de Constance foi vencido judicialmente e, ainda assim, a escola organizou um boicote juntando alunos e comunidade para que na noite do baile apenas a estudante, sua namorada e alunos deficientes físicos aparecessem. Com a repercussão, a escola optou por pagar U$ 35 mil (R$ 177,1 mil) a estudante.
Com a repercussão, Constance chegou a participar do popular talk show The Ellen DeGeneres Show que lhe rendeu uma bolsa de estudos de U$ 30 mil.
The Prom traz o mesmo preconceito e discriminação vivido em 2010 por Constance, só que pelos olhos de Emma Nolan (Jo Ellen Pellman) que também não pode levar sua namorada ao baile. A diferença é que a namorada de Emma, Alyssa Greene (Ariana DeBose – uma atriz adulta que não convence no papel de adolescente), não conseguiu se assumir lésbica para sua mãe, a diretora conservadora e que norteia a proibição do casal Mrs. Green (Kerry Washington).
Como todo bom musical pede um grande espetáculo, este fica pelos quatro artistas que decidem procurar uma boa causa que mude a ideia que a crítica e o público mantém sobre eles. Seja por arrogância, ignorância, egocentrismo ou egoísmo, Dee Dee Allen (Meryl Streep), Barry Glickman (James Corden), Angie Dickinson (Nicole Kidman) e Trent Oliver (Andrew Rannells) embarcam para Indiana, para ajudar as meninas lésbicas.
Vale ressaltar que The Prom é um musical da Broadway, que estreou em 2018 com música de Matthew Sklar e letras de Chad Beguelin e também teve adaptação recente para livro, escrito por Bob Martin e Beguelin.
O filme da Netflix possui a emoção que se espera de uma obra adaptada, surpreende com os jogos de luz que Ryan Murphy já entregava em Glee, mas peca na escolha do elenco.
Por mais que James Corden tenha brilhado ao lado de Meryl Streep (que carrega facilmente o filme nas costas), ainda foi difícil ser convencida pela sua atuação que sempre parece pedir algo a mais. No entanto, em momentos específicos, há entrega emocional o suficiente para que o público possa se sensibilizar com seu personagem. Ainda assim, chega a ser decepcionante que o espaço deste personagem não tenha sido para um ator LGBT+ em uma obra sobre LGBT+. Há uma chuva de estereótipos do começo ao fim de sua atuação. Também deixando a desejar, Nicole Kidman não brilha em todo filme, salvo sua música com Emma que faz referência a Chicago.
Caso você não seja adepto de musicais mas seja curioso, essa pode ser uma boa obra para se iniciar nesse universo. A maioria das músicas existe para que a emoção seja entregue de uma maneira diferente, que vai além de palavras. Sendo assim, as cenas onde os atores cantam – em sua maioria – querem te dizer e mostrar o que o personagem sente ou gostaria de fazer. Excluo, neste caso, as cenas onde a música é proposital como em vídeo compartilhado.
The Prom vem em boa hora. Estamos vivendo dias intensos, caóticos e, ao mesmo tempo, parados. Histórias com finais previsíveis ou com acontecimentos esperados acalmam nossa consciência e confortam o espectador por alguns minutos. Sendo assim, acredito que seja uma boa escolha para ver sozinho ou em companhia.
Para The Prom – A Festa de Formatura, a nota é 4.