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Sociedade

Ansiedade, estresse e pandemia: quando é a hora de procurar um profissional?

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A ansiedade é um dos maiores propulsores de depressão e atinge ainda mais brasileiros nos tempos em que vivemos

Reprodução | Internet

No Brasil, cerca de 18,6 milhões de pessoas vivem com transtornos de ansiedade, equivalente a 9,3% da população, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2018. Esse índice coloca o Brasil no lugar de país mais ansioso do mundo. Com a pandemia do Coronavírus, essa taxa aumentou ainda mais e de forma perceptível quando muitos internautas comentaram sobre o assunto nas redes sociais. Segundo estudos da Universidade Estadual de Ohio (EUA), com participação da USP e Unifesp, dos 1.500 respondentes cerca de 63% apresentaram transtornos de ansiedade e 59% tinham sintomas de depressão. A pesquisa aconteceu em fevereiro deste ano, tendo recolhido dados principalmente da região Sudeste.

Todos os anos é levantada a bandeira de prevenção ao suicídio na campanha Setembro Amarelo, onde os temas saúde mental e depressão são debatidos com mais afinco. Discussões como estas estão se tornando cada vez mais importantes e necessárias, visto que os índices de depressão têm aumentado. Com isso, temas como ansiedade e estresse excessivo têm se tornado pauta da campanha, mostrando que eles são uns dos principais propulsores da depressão.

Porém, mesmo com o fim do mês de setembro ainda é imprescindível que a discussão sobre o tema continue, afinal, o mês passa, mas a ansiedade e o estresse não. Por isso, convidamos a psicóloga e psicoterapeuta, Beatriz De Breyne Fenner, para falar um pouco sobre o assunto. Beatriz é formada em psicologia clínica na abordagem fenomenológico-existencial e pós-graduada em neurociência e física da consciência. Atualmente, atende clinicamente de forma presencial e online e está concluindo sua segunda pós-graduação em psicologia clínica fenomenológico-existencial, além de desenvolver estudos sobre a relação humana com as redes sociais. 

Podemos dizer que hoje a ansiedade se tornou um problema mais recorrente da população?

Quando falamos sobre ansiedade, nos referimos ao hábito de nos anteciparmos a eventos que estão por ocorrer, ou, que podem vir a acontecer.  Sentir ansiedade é “normal”, todavia, quando esta se torna excessiva, pode vir a desencadear diversas psicopatologias como a ansiedade generalizada, ou até mesmo em casos mais graves, o transtorno de pânico.

Em nossa realidade atual, temos a impressão de que a ansiedade está atingindo cada vez mais pessoas de modo preocupante, pois vivemos num mundo bastante “acelerado”, muitocompetitivo e incerto. Trata-se de um mundo onde as novas tecnologias produzem uma quantidade de informaçãotão grande que não conseguimos dar conta, um mundoonde as mídias sociais são programadas para nos manter conectados o tempo inteiro, e por fim, um mundo onde somos obrigados a demonstrarmos o quão somos super eficientes, produtivos e quase próximos à perfeição.

Como não nos sentirmos ansiosos numa realidade assim?

A ansiedade pode ser causada por estresse em excesso?

O estresse é resultante de situações de acúmulo de tensão, sobrecarga de trabalho e situações difíceis de lidar do cotidiano. Nesse sentido, ele se caracteriza como um dos fatores que podem vir a desencadear não apenas a ansiedade em níveis patológicos, como também está envolvido no desenvolvimento de quadros de depressão.

Quais os principais agravantes da ansiedade nos dias de hoje?

O consumo excessivo de informações por meio das mídias sociais e fontes de notícias, assim como as constantes comparações que fazemos uns com os outros nas redes sociais, contribuem para que nossos níveis de ansiedade se tornem cada vez mais preocupantes.

Pois em meio a essa correria, experimentamos o conflito de sentirmos que não podemos dar conta de tantas demandas, ao mesmo tempo em que somos obrigados a demonstrar publicamente que somos capazes de dar conta de toda a complexidade que nos cerca. Em outras palavras, somos “obrigados” pelo nosso meio a demonstrar o quão eficientes e bem sucedidos somos, ao mesmo tempo em que nos sentimos cansados, angustiados e incapazes de suprir todas as demandas.

Quando essa nossa correria incessante se alia a uma rotina sedentária, relações interpessoais de baixa qualidade, alimentação ruim e poucas horas de sono, temos aí um cenário propício para o surgimento de ansiedade generalizada, surtos de pânico e depressão.

Qual faixa etária pode-se considerar mais atingida por esse problema?

Adolescentes e jovens adultos na faixa dos 30 anos. Essas fases são aquelas em que estamos num momento da vida onde devemos escolher uma direção profissional e garantir uma autonomia econômica e sucesso no mercado, o que causa uma grande pressão psicológica.

Quais os principais sintomas, físicos e psicológicos, da ansiedade?

Cada pessoa irá experimentar os sintomas de forma diferente, podendo ser exclusivamente físicos ou psicológicos, ou até mesmo de forma combinada. Dos sintomas físicos é comum dor no peito, sudorese (suor frio ou ondas de calor), taquicardia (fortes palpitações no coração), falta de ar, tremor, tensão muscular, tontura e formigamento. Já nos psicológicos pode-se perceber incapacidade de relaxar, inquietação, insônia, dificuldade de concentração, sensação de estar “no limite” e preocupações excessivas e persistentes.

Você acha que a ansiedade é o mal do século?

Acredito que todas as épocas são marcadas por determinados adoecimentos psicológicos, onde o tempo histórico em que estamos inseridos sempre será um determinante, ou seja, se estamos vivendo em um mundo globalizado, capitalista e tecnológico, surgirão consequências equivalentes a tal. Sendo assim, a ansiedade é certamente um dos males da sociedade tecnológica em que vivemos, junto à depressão e etc.

Estresse em excesso também pode causar sintomas físicos?

Sim, geralmente todo pensamento vem acompanhado de sensações físicas, mesmo que não perceptíveis. O estresse pode apresentar sintomas leves daqueles da ansiedade.

Qual a indicação do que fazer durante uma crise de ansiedade?

Quando uma crise de ansiedade acontece, como a taquicardia, a falta de ar e a dor no peito, as quais costumam ser as características mais recorrentes, é muito importante que a pessoa consiga encontrar o espaço mais tranquilo possível — para diminuir as possibilidades de preocupação e medo que o lugar apresenta — em que possa se sentir mais segura até que sua respiração e bem estar se normalizem.

Orienta-se que se inspire por 4 segundos, segure o ar por 2 segundos, e expire o máximo possível até que se sinta melhor. É importante enfatizar que não devemos ter a pretensão de “lutar contra” uma crise de ansiedade quando ela vier, mas sim, de aceitarmos que ela está acontecendo e que faz parte da experiência humana, logo devemos tentar nos estabilizar e ter em mente que esses sintomas irão passar.

Quando devemos parar e procurar um profissional?

Quando os sintomas físicos e psicológicos se tornam excessivos e persistentes e, principalmente, quando os sintomas passam a impossibilitar as atividades cotidianas na vida da pessoa. Ao perceber o agravamento dos sintomas, o quão antes a pessoa buscar auxílio profissional, melhor! Pois isto prevenirá o progresso gradativo do processo de adoecimento.

Qual a importância de fazer terapia?

A terapia psicológica é importante, porque é através da nossa mente que percebemos e interpretamos a realidade em que vivemos, como a sentimos e como significamos nossa história de vida. Portanto, é através de nossas mentes que as nossas vidas literalmente acontecem, e por isso o cuidado com nossa saúde mental deve ser tratado sempre como uma prioridade maior. Nesse processo de autocuidado e autoconhecimento, a Psicologia está preparada para acolher e auxiliar as pessoas em prol de seu bem estar e qualidade de vida.

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